Por: Luis Matos (Portugal)
Site Templar Globe: http://templars.wordpress.com/2010/09/08/mas-afinal-onde-estao-os-templarios/
Uma Ordem com a antiguidade histórica da Ordem do Templo, para mais suprimida por meios violentos e injustos, deixou naturalmente muitos ecos da sua existência que perduram séculos. Para os estudiosos o problema da sobrevivência da Ordem não é um mistério, já que há dados suficientes para demonstrar que a Ordem foi suspensa pela Santa Sé, única autoridade reconhecida por ela, pelo que compete à mesma Santa Sé retomá-la ou não. Estou certo que o fará em moldes que chocarão profundamente a maior parte dos ditos “neo-templários” ou “templários” dos dias de hoje, arrasando de vez com mitómanas pretensões e tolices disfarçadas de “história”. Mas a seu tempo o veremos.
É para nós – e aqui falo em nome da Ordem que represento – completamente indiferente o que aconteceu ao “corpo”, parte tangível e mortal da Ordem Templária. Quem quiser o seu cadáver (e muitos o querem…), que o reclamem e lhes seja de boa serventia. O que nos importa é o interior, a dimensão espiritual e transcendente que compunha a mística da Ordem, a qual lhe é anterior e de origem ainda por apurar. Esse cimento invisível de coesão – que Filipe, o Belo, não pode matar ou queimar – esteve bem presente quando D. Dinis sabiamente apadrinhou a Ordem de Cristo. Essa chama que dá a luz imperecível, a mesma que assegura que o candelabro que ilumina a Santa Palavra sobre o altar de Chartres veicula idêntica luz espiritual que aquela candeia na noite gélida de Trancoso ilumina a Sagrada Família na sala da estar de uma velha mãe que reza em súplica a Maria piedosa pela sua prole, essa luz imortal que activa o Templo terrestre e procede do Templo celeste, essa é a causa e a força que nos interessa. Essa é a verdadeira chave que sobeja uma vez varridas as cinzas dos corpos calcinados na fogueira das tiranias humanas. Ao queimar corpos e carne e ossos, Filipe não impediu que o “ethos” Templário se prolongasse na história através de luminárias como a Ordem de Montesa, a Ordem de Calatrava, a Ordem de Alcântara, os Cavaleiros do Gládio da Ordem Teutónica, a Guarda Real de Robert Bruce, a Estrita Observância Templária e, porventura a mais brilhantes de todas as partículas em brasa dessa Fénix Templária que foi a Ordem de Cristo de Portugal. Se Filipe teve algum mérito foi o de tornar imortal uma Ordem que mostrava sinais de decadência. Foi o de multiplicar por dez os corpos que veicularam com êxito a missão e a ética Templária ao longo da Europa medieval e renascentista.
Ora, olhando profundamente se notará que parte do espírito Templário sintetizam uns e outros ramos dessa antiga família ainda activos nos dias de hoje. Há grupos excursionistas, cujas actividades se centram em viagens pelo mundo para assistir a uma missa e uma “investidura” de gente que jamais voltam a ver na vida. Essa é uma vertente. Há outros grupos que preferem os Jantares de Gala e toda a vaidade que com eles se vive. É um outro aspecto. Os Templários originais foram acusados muitas vezes de “bêbados e comilões, pouco interessados pelos pobres”, pelo que é perfeitamente legítimo andar a exibir essa parte da Tradição Templária pelo mundo. Porque não? O que é muito difícil encontrar é um filho, num dos ramos centrais ou colaterais, que mantenha as práticas mais puras e mais bem ancoradas na verdade Templária, que possam dar acesso à tal Cavalaria Espiritual que fez o Templo e o refez sempre que assim foi preciso ao longo da História.
No nosso caso, OSMTHU, ramo da OSMTH (obrigado a seguir caminho autónomo nos anos da 2ª Guerra a partir da OSMTJ), estamos muito pouco preocupados em saber se Clemente V foi conivente com Filipe deixando que os Templários fossem queimados na fogueira, ou se Clemente V não foi conivente, assinou um documento (“Carta de Chinon”) em que absolveu a Ordem, na sequência do qual deixou Filipe queimá-los na fogueira. Para nós, o “cheiro a esturro” não se dissipa. E nós, OSMTHU, fomos os primeiros (senão os únicos) a ser convidados por Barbara Frale e o Padre Pagano a visitar os Arquivos Secretos do Vaticano e ver o documento , nos idos de 2002. Contudo sabemos que documentos históricos devem ser enquadrados no seu contexto e tempo históricos, pelo que pretender reconhecer mais de 700 anos depois da assinatura da Carta de Chinon uma Ordem fundada mais de 400 anos após a mesma assinatura é de uma desfaçatez e fantasia mitómana que em nada abona a organização que mantém esse fim, declarando à imprensa que vai “negociar” com o Vaticano… Como se o Vaticano negociasse este tipo de assuntos como quem regateia o preço das nabiças na saudosa Praça do Bolhão… Tenham paciência…
Estamos pouco preocupados em saber se o cadáver Templário pode ser exumado pelo simples facto de que o seu espírito e a sua força anímica, a sua componente transcendente (que não é de jantares anuais, mas, recorde-se, de MONGES -SOLDADOS), o seu SER, está vivo e é tão coerente hoje como o era há 800 anos. É tão Templário como sempre o foi.
Dito isto, há que reconhecer que este post é motivado pela verdadeira avalanche de emails, comentários e pedidos que temos recebido nos últimos dias de entrada na Ordem. Isto deve-se à recente cerimónia realizada em Coimbra por um outro ramo da Ordem que teve cobertura mediática muito razoável. Sobre esse ramo não nos cabe pronunciar (mais uma vez, o frutos são o melhor indicador da árvore que os dá). Cabe sim esclarecer que a OSMTHU está numa fase de interioridade que não é compatível com cerimonial público. Por um tempo ainda indeterminado a Ordem considerou que é profundamente importante reforçar os dois aspectos marcantes da nossa Tradição:
a) A Instrução da Cavalaria (quer histórica, quer filosófica, quer simbólica)
b) A Instrução Religiosa (sem a qual o potencial Cavaleiro não pode realizar a plenitude da iniciação MONGE-SOLDADO)
Estas duas componentes aparentemente contrárias (a do guerreiro que tem o poder de matar e a do sacerdote que tem o poder de absolver) são específicas do nosso ramo da Tradição Templária e não se encontram disponíveis em nenhum outro ramo activo neste momento.
Deste modo, a OSMTHU em Portugal determinou que, antes de se proceder a qualquer tipo de aproximação à Ordem, é de vital importância que possíveis candidatos às suas fileiras entendam de modo muito claro o que é a Ordem e o que podem de forma REALISTA esperar da sua filiação. Deste modo, estabeleceu-se um protocolo com o In Hoc Signo Hermetic Institute (ver www.ihshi.com) que permite a qualquer postulante empreender um período de estudo aprofundado através do Grupo de Estudos Templários, após o qual está melhor posicionado para decidir que ramo da enorme família Templária mais se coaduna com as suas aspirações.
Assim, até notícia em contrário e à semelhança de outras Ordens de carácter iniciático, a OSMTHU em Portugal delega no Instituto IHS a fase introdutória de preparação e orientação prévia dos seus futuros membros.
Mas afinal onde estão os Templários?
Ao leme, Senhor… Ainda estão ao leme.
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