Cavaleiro

Cavaleiro
Os créditos da ilustração são de André Marques - www.andre.art.br

Equações


Por: Adílio Jorge Marques – jan. 2007



Na luta pela vida
Retas e curvas que se integram
Raios diametrizados que buscam
O toque do amor que acedia

Equações que diferem
Na noite, no dia
Transformações que nos levam
À busca da igualdade dos que amam
Igualar o impossível

Axiomas e leis traduzidos
Formatos que nos cercam
Levam dois ao um
O um a nenhum
Todos que nos amaviam

Torna o amor um ambaquista
Habilidoso na arte do final
Da conquista sem integral
Do nenhum
Que pensa ser um
Da vida sem conquista
Da esperança sem vista

Galileu, Kepler e Bacon: “estrelas” dos nossos livros e apostilas discutindo a influência das estrelas no século XVII

Por: Juliana Mesquita Hidalgo Ferreira    


Galileu, Kepler e Bacon
O filósofo Francis Bacon (1561-1626) aceitava não só a existência de influências celestes nos fenômenos terrestres, como também a possibilidade de estudá-las. Bacon criticou alguns aspectos da astrologia, e indicou aperfeiçoamentos que esse tipo de estudo deveria sofrer. Estabeleceu princípios para o estudo das influências astrológicas e sugeriu que fossem verificadas as condições do céu para momentos marcantes da história da humanidade. Teriam esses momentos coincidido com a ocorrência de conjunções, eclipses ou com a passagem de cometas?
Johannes Kepler (1571-1630), um dos mais importantes personagens da “revolução copernicana”, dedicava-se à astrologia e propôs algumas modificações de suas técnicas.  Kepler acreditava que nas ocasiões em que os planetas formavam no céu algumas figuras geométricas específicas, os chamados “aspectos astrológicos” (conjunções, oposições, quadraturas etc.), suas influências causavam efeitos na Terra. Nessas situações especiais era como se uma espécie de música fosse tocada à qual a Terra respondia como um dançarino.
Em 1610, Kepler comentou sobre a repercussão para a astrologia da descoberta de quatro satélites de Júpiter, num diálogo com Galileu Galilei (1564-1642), o próprio autor daquela proeza. A questão causou certa inquietação a Kepler e levou-o a profunda meditação.
O astrônomo julgava que Deus nada havia criado em vão. Os satélites de Júpiter, como parte da criação divina, deveriam ser benéficos a alguém. Mas como, “se não há alguém sobre o globo de Júpiter para se dar conta com seus olhos desta admirável variedade?” – se indagava Kepler.
Como os satélites de Júpiter não podiam ser observados a olho nu, então, a função de servir-nos como maravilha para contemplação não lhes cabia. Se essa não era, portanto, a incumbência divina desses quatro satélites de Júpiter observados por Galileu, que papel lhes cabia no universo?
Só parecia restar a Kepler a opção de considerá-los como fonte de influências astrológicas. E foi o que ele fez.
Mas se a astrologia nunca havia levado em conta essas influências, a descoberta dos satélites podia acarretar problemas a essa área. Seria possível dizer que as influências dos satélites de Júpiter já eram normalmente computadas, mesmo que não se soubesse anteriormente da existência particular de cada um deles? Era possível alegar que o que teríamos até então era não o efeito de Júpiter, mas sim do conjunto “Júpiter+satélites”?
O que significaria se Júpiter tivesse sua influência alterada de acordo com a influência dos seus satélites, fossem elas no sentido de reforçar ou diminuir a influência original? Júpiter isolado poderia ter um significado diferente de Júpiter e seu conjunto de satélites.
Kepler apresentou suas considerações a Galileu. Considerava sim que a função dos satélites de Júpiter deveria ser emitir influências astrológicas, mas não via isso como um abalo para a astrologia. A explicação de Kepler era baseada justamente no fato de conceber que os astros somente agiriam sobre a Terra “por aspectos”.
Como vistos da Terra os satélites estão sempre muito próximos de Júpiter, então, eles não podiam modificar os aspectos do planeta com a Terra. Influências individuais desses satélites sobre a Terra seriam desprezíveis. Os satélites de Júpiter só deveriam ser astrologicamente importantes para os próprios habitantes do planeta Júpiter.
E foi assim que Kepler respondeu a um Galileu bastante avesso à astrologia...


O POLÊMICO MÍSTICO DIONÍSIO AREOPAGITA, OU PSEUDO-DIONÍSIO


Teólogo e filósofo neoplatônico cristão de expressão grega, mas de origem desconhecida, dito também Pseudo-Dionísio por ter assumido o nome daquele Dionísio Areopagita, ao qual o Apóstolo Paulo converteu ao cristianismo pelos anos 50 de nossa era, por efeito de seu discurso no Areópago de Atenas. Dionísio Areopagita se apresenta como discípulo de São Paulo de Atos 17,34. Dele possuímos as seguintes obras: Sobre a Hierarquia Celeste; Sobre a Hierarquia Eclesiástica; Sobre os Nomes Divinos; Cartas e a obra Sobre a Mística Teologia. Não existe nenhuma citação patrística, sobre Dionísio, a não ser em 532 quando ele vem citado num encontro entre Católicos, que aderiram ao Concílio de Calcedônia, e Monofisitistas Severianos. Neste encontro entre Monofisitistas e Calcedonenses, em Constantinopla, o Bispo Hipázio de Éfeso, negava a autenticidade deste "corpus" enquanto os monofisitistas baseavam sua "ortodoxia" chamando Dionísio em testemunho.

Muitos estudiosos esforçaram-se em datar e identificar nosso autor: ou atribuindo a Dionísio ser o discípulo de Paulo; ou conforme a Escola Francesa que procura identificá-lo como o primeiro Bispo de Paris, São Dionísio; ou com Pedro Ibério; ou com Pedro Fulão, Severo de Antioquia, etc.

Os estudiosos não conseguiram definir a data dos escritos dionisianos a partir da questão histórica. Koch e Stigmayr conseguiram aproximar uma datação a partir do estudo interno das obras recavando elementos que poderiam indicar sinais de nosso autor na história.

O primeiro elemento relevante encontramos no capítulo IV do tratado Sobre os Nomes Divinos. Este tratado dependia do De Malorum Subsistentia de Proclo que morrera em 485. Este elemento forçava a datação mais próxima para a metade do século V e início do século VI. Devemos destacar que não se trata somente de um estilo de aproximação entre eles, mas que Dionísio cita frases inteiras de Proclo.

Stigmayr tentou então fazer uma cronologia destacando os seguintes pontos:

1. O Concílio de Calcedônia (451) tinha condenado a doutrina Eutiquiana da mistura de Cristo. No "corpus dionysiacum" encontramos também esta preocupação. Nesta hipótese podemos datar o "corpus" depois de 451.
2. No livro que nos fala Sobre a Hierarquia Eclesiástica III,2 encontramos a referência ao Credo como parte integrante da Eucaristia, e por isso, o "corpus" deve ser posterior a 476, visto que o monofisitista Pedro Fulão foi quem introduziu na Eucaristia o Credo em Antioquia.
3. Também o decreto Henótikon do Imperador Zenão. Ele procurou conciliar os Calcedonianos e Monofisitistas condenando o uso de "uma natureza" e "duas naturezas" que também vêm evitadas na obra de Dionísio.
4. No comentário de André de Cesaréia, ao Apocalipse de São João, Dionísio é chamado em testemunho. Também Severo de Antioquia escrevendo ao Abade João cita Dionísio.

Todas estas evidências fazem datar nosso autor em fins do século V e início do século VI.

A autoridade de Dionísio vem confirmada com Máximo o Confessor, e a partir de então, Dionísio entra como citação na Igreja Oriental. Papas e Imperadores foram quem abriram no Ocidente as portas para Dionísio. Ele foi citado pelo Papa Gregório Magno (+604) bem como Papa Agatão (680) Adriano I (787). O Papa Paulo I (758) presenteou a Pepino, o Breve, com os escritos de Dionísio. Foi Ludovico Pio quem encomendou ao abade Hilduino fazer a primeira tradução do "corpus dionysiacum" para o latim. Mais tarde Escoto Eriúgena (810-877), a pedido de Carlos II, o Calvo, fez uma nova tradução que será muito superior àquela de Hilduíno.

Gozou de grande autoridade no decorrer de toda a Idade Média, porque se supunha contemporâneo dos primeiros cristãos. Mais precisamente, o autor pode ter vivido na Síria, talvez um bispo por causa da maneira respeitosa de se referir às autoridades da Igreja. As
suas obras proporcionaram uma importante contribuição ao estudo da filosofia da religião, também no Ocidente, onde circularam em versão latina. Foi de um nível de pensamento superior entre os cristãos. Sua orientação é neoplatônica e reproduziu textos de Proclo (480-485), sem todavia mencioná-lo pelo nome. A sua obra teve grande influxo para a espiritualidade Ocidental: Scoto Eriúgena, Alberto Magno, Boaventura, Tomás de Aquino, Dante Alighieri, São João da Cruz, etc.

O esquema de Dionísio tornou-se básico para a espiritualidade ocidental, esquema de ascensão à divindade. Dionísio é um dos pais da teologia apofática ou teologia negativa; para ele Deus é incognoscível e inatingível. Particularmente estabeleceu a plena espiritualidade dos anjos, contrariando ao agostinianismo e aos platônicos cristãos em geral, os quais supunham haver uma matéria sutil em todas as criaturas.


PENSAMENTOS DE DIONÍSIO AREOPAGITA

"Dizemos, portanto que a causa de todas as coisas e que está além de todas as coisas não é absolutamente razão, nem inteligência. Entretanto não é absolutamente um corpo, nem uma figura, nem uma forma e não tem quantidade ou qualidade ou peso; não está em algum lugar, não vê, não tem um tato sensível, não sente, nem cai debaixo da sensibilidade; não conhece desordem e perturbação para ser agitado pelas paixões naturais ... Portanto, começando a subir, dizemos que não é alma nem inteligência; não possui imaginação ou opinião ou razão ou pensamento; não é Palavra nem pensamento; não se pode exprimir nem pensar; não é número nem ordem; nem grandeza nem pequenez ... e está acima de toda a negação a excelência de quem é livre absolutamente de tudo e que está acima do universo".

"A escuridão é a inacessível claridade...".

"Exercite-se sem parar as contemplações místicas, abandone as sensações, renuncie às operações intelectuais, rejeite tudo que pertence ao sensível e ao inteligível, despoje-se totalmente do não-ser e do ser, e eleve-se assim, tanto quanto lhe seja possível, até unir-se, na ignorância, com Aquele que está além de toda essência e de todo saber. Pois é em saindo de tudo e de você mesmo, de modo irresistível e perfeito, que você se elevará numpuro êxtase até o raio nas trevas da divina Superessência, tendo tudo abandonado e estando despojado de tudo".

"A Causa boa (Deus) de todas as coisas pode ser expressa com muitas e com poucas palavras, mas também com a ausência absoluta de palavras. Com efeito, não há palavra nem inteligência para expressa-la, porque ela está colocada supra-substancialmente além de todas as coisas, e só se revela verdadeirmente e sem qualquer véu para aqueles que transcendem todas as coisas impuras e puras, superam toda a subida de todos os cumes sagrados, abandonam todas as luzes divinas e os sons e discursos celestes e penetram na escuridão onde verdadeiramente reside, como diz a Escritura, aquele que está além de tudo".

"Se acontece que, vendo a Deus, compreende-se o que se vê, é que não se viu ao próprio Deus, mas algumas dessas coisas cognoscíveis que a ele devem a existência. Isso porque em si mesmo ele ultrapassa toda inteligência e toda essência. Ele não existe, de maneira puperessencia, e não é conhecido, para além de toda intelecção, senão na medida em que é totalmente desconhecido e que não existe. E é este perfeito desconhecimento, tomado no melhor sentido da palavra, que constitui o verdadeiro conhecimento dAquele que ultrapassa todo conhecimento".

"... conhecer para além da inteligência pelo não conhecer nada".

"Não é sem razão que falamos de Deus e que o celebramos a partir de todos os seres... Mas a maneira de conhecer a Deus que é a mais digna dele é a de conhecê-lo à maneira de desconhecimento, numa união que ultrapassa toda inteligência, quando a inteligência, desprendida de antemão de todos os seres, sai em seguida de si mesma, une-se aos raios mais luminosos que a própria luz e, graças a esses raios, resplente na insondável profundeza da Sabedoria".

"Trindade superessencial e mais que divinal e mais que boa, tu que presides a divina sabedoria cristã, conduze-nos não somente para além de toda luz, mas para além do desconhecimento, até o mais alto cimo das Escrituras místicas, onde os mistérios simples, absolutos e incorruptíveis da divindade se revelam nas Trevas mais que luminosas do Silêncio. É no silêncio, com efeito, que se aprendem os segredos destas Trevas... que brilha com luz mais luminosa no seio da mais negra obscuridade e que, embora permaneça ela própria perfeitamente intangível e perfeitamente invisível, enche de esplendores mais belos que a beleza das inteligências que sabem fechar os olhos... ".

"Ousamos negar tudo a respeito de Deus para chegarmos a esse sublime desconhecimento que nos é encoberto por aquilo que conhecemos sobre o restante dos seres, para contemplar essa escuridão sobrenatural que está oculta ao nosso olhar pela luz perceptível nos outros seres".


Texto extraído dos sites:
http://coracaomistico.blogspot.com/


A PROPORÇÃO ÁUREA


A letra Phi (φ) possui este nome em homenagem ao arquiteto grego Phídias, construtor do Parthenon e que utilizou o número de ouro em muitas de suas obras. Tal número sempre foi motivo de estudos, pois leva à compreensão do Livro da Physis ou Natureza. E por quê esse número é tão apreciado por artistas, arquitetos, projetistas e músicos? Porque está presente na natureza, no corpo humano e no universo.

A Proporção Áurea, ou Número de Ouro, ou Número Áureo, é uma constante real algébrica irracional que há muito tempo é empregado na arte. A Proporção Áurea também é chamada na Matemática de razão áurea, razão de ouro, divina proporção, proporção em extrema razão, ou divisão de extrema razão. Muito frequente é a sua utilização em pinturas renascentistas como as do mestre Giotto.


Este número está envolvido com a natureza do crescimento. Pode ser encontrado na proporção de conchas (a nautilus, por exemplo) e até na relação do número de machos e fêmeas nas colmeias das abelhas (dividindo o número de fêmeas pelo número de machos de qualquer colmeia obtêm-se aproximadamente φ). Além do crescimento das plantas, encontra-se nas espirais de galáxias, nos dentes dos elefantes, nas ondas do oceano. No corpo humano são intrigantes as razões nas quais se encontra o famoso número:

Na altura do corpo humano pela medida do umbigo até o chão.

Entre a altura do crânio e a medida da mandíbula até o alto da cabeça.

A razão entre a medida da cintura até a cabeça e o tamanho do tórax.

A medida do ombro à ponta do dedo e a medida do cotovelo à ponta do dedo.

Entre o tamanho dos dedos e a medida da dobra central até a ponta.

A razão da medida do seu quadril ao chão com a medida do seu joelho ao chão.


As proporções anatômicas foram bem historicamente bem representadas pelo "Homem Vitruviano" de Leonardo da Vinci, resumindo muito bem as ideias de proporção e simetria aplicadas à concepção da beleza humana.
Justamente por estar envolvido no crescimento dos seres na natureza este número se torna tão frequente. E por ser recorrente o número de ouro ganhou um status de "quase mágico" sendo alvo de pesquisadores, artistas e escritores. O fato de ser encontrado através de um desenvolvimento matemático é que torna o nº φ fascinante.

Assim como os gregos, os egípcios já haviam feito o mesmo com as suas pirâmides: cada pedra era aproximadamente 1,618 menor do que a pedra de baixo; e a de baixo era 1,618 maior do que a de cima, e esta 1,618 maior em relação a da 3ª fileira, e assim por diante. A relação algébrica de φ tem como resultado um nº aproximadamente igual a 1,618 (ou seja, corresponde a um mais a raiz quadrada de cinco, tudo isso dividido por dois).


Phi (φ) representa uma constante que não deve ser confundida com outra constante ainda mais conhecida, o número Pi (π). Esta surge da divisão do comprimento de uma circunferência pela medida do seu respectivo diâmetro sendo aproximadamente igual a 3,1415.


Referências:

- Lívio, Mario. Razão áurea: a história do phi.
São Paulo: Record, 2006.
- Le Corbusier. The Modulor, p. 35, in: Padovan, Richard. Proportion: Science, Philosophy, Architecture, 1999.
- Cole, K. C. O Universo e a xícara de chá. São Paulo: Record, 2006.

Crônica de Artur da Távola – Ser Vasco

Texto completo do escritor e jornalista Artur da Távola.


Ser Vasco é ser intrépido tanto quanto leal. É ter o sentido da história do Brasil a fundir povos e raças sem preconceito. É ser navegante da esperança, não temer aventura, futuro, conquistas, calmarias ou tempestades.

Ser Vasco é renegar o temor e ser popular sem populismo, ser valente sem arrogância e ser decidido sem soberba. É ter a vocação da vitória e a disposição necessária à qualidade e ao mérito por saber que virtudes necessitam de energia e energia, de vontade.

Ser Vasco é, pois, ser virtude, vontade, valor e vanguarda: tudo com o v de vida, o mesmo de Vasco.

Ser Vasco é conhecer o grito do entusiasmo, esperar a hora de vencer e sentir o cheiro do gol. É incendiar estádios e extasiar multidões. É adivinhar instantes decisivos e saber decidir.

Ser Vasco é ser mais povo do que elite, mais tradição do que novidade, mais segurança do que aparência, mais clube do que time, mais vibração do que delírio, mais vigor do que agressão.

Ser Vasco é ousar, insistir, renovar-se, trabalhar para construir a vitória não como forma de superioridade, mas de aperfeiçoamento da vida e do esporte. É gol, é gala, é garbo de uniforme original, cruz no peito, sonho n’alma e amor no coração.

Ser Vasco é emoção recompensada porque vitória bem planejada, é lance, é lança, liberdade, impulso e convicção.

Ser Vasco é sentir o gosto da felicidade, da vitória e do grito maiúsculo de gol. É ter sabedoria e prudência, unidas na tática certeira ou na organização eficaz. É viver a emoção de lembrar nomes, lendas, heróis e legendários craques, troféus, títulos, retratos, faixas, taças, copas e vitórias imortais.

Ser Vasco é ter idênticos motivos para cultuar o passado tanto quanto crer no futuro.

Ser Vasco, enfim, é saborear com humildade o orgulho sadio da vitória merecida, do entusiasmo com motivo e da grandeza como destino“.


Esse texto foi lido por Marcos Palmeira na TV em 2009. Artur da Távola faleceu no dia 9 de maio de 2008 no Rio de Janeiro, aos 72 anos.



Artista brasileiro grafita camisa do Vasco em muro de Paris


Marcelo Eco, que participou de uma das maiores feiras artísticas do mundo, aproveitou para homenagear o clube do coração.


Por Felippe Costa Rio de Janeiro - Atualizado em 17/07/2011


Um dos pioneiros do Graffiti no Rio de Janeiro, Marcelo Eco homenageou o time do coração em uma das maiores feiras artísticas do mundo (Hoptimum), realizada em Paris, França. Convocado para fazer uma pintura sobre o futebol o brasileiro fez questão de grafitar a camisa do Vasco. O desenho está no centro da cidade e é muito visitado. 

- Fui participar de um dos maiores eventos artísticos do mundo, na França. Acabei ficando responsável por um painel que falava do futebol. Como sou vascaíno, não pensei duas vezes antes de fazer uma homenagem ao meu time. Pela rivalidade, fica difícil fazer um trabalho desse aqui no Brasil. As pessoas acabam estragando. Sei que lá minha arte ficará bem exposta.

Livro retrata relações entre d. Pedro 2º e professor de ciência

Folha de São Paulo - Domingo, 06 de junho de 2011.
Caderno "Cotidiano", página "Ciência".


Link:


Pesquisa revela trajetória do naturalista Alexandre Vandelli, mestre de d.Pedro 2º e um dos principais estimuladores da paixão do imperador pelas ciências.


A paixão desse membro da família real brasileira pelas ciências é conhecida dos historiadores. Mas os bastidores do desenvolvimento científico de d. Pedro 2º costumavam passar batido.
Foi nesse universo pouco explorado que o historiador e físico Adílio Jorge Marques se debruçou ao escrever “O Professor do Jovem Imperador” (Ed.Vieira&Lent, 2010).
Nesse trabalho investigativo, Marques trouxe à tona um personagem pouco conhecido na historiografia do Brasil e de Portugal: o naturalista Alexandre Antonio Vandelli.
Ele foi professor de ciências de d. Pedro 2º e, posteriormente, de suas filhas, servindo a família real por mais de duas décadas.
“Levantei todas as folhas de pagamento da família real, e o nome de Vandelli aparece de 1839 a 1862 [ano de sua morte]“, diz Marques.

CAMINHO CIENTÍFICO
Vandelli saiu de Portugal rumo ao Brasil na época do período regencial (1831-1840). Aqui, deu continuidade às suas atividades científicas –muitas delas necessitavam de aprovação de ministérios da época.
Um dos ministros, Bernardo de Vasconcelos, criador do Colégio d. Pedro 2º, convidou Vandelli para fazer a seleção do material de ciências da instituição.
Essa foi a ponte para que o naturalista se tornasse mestre de d. Pedro 2º e da família real já no ano seguinte.
A relação intelectual de aprendiz e mestre está registrada no material didático de d. Pedro 2º, onde Marques encontrou anotações minuciosas de Vandelli. “Na adolescência, d. Pedro 2º já tinha uma tendência natural à erudição”, diz.
O clima entre os dois era muito amistoso, tanto que o professor do imperador participava de todos os eventos que aconteciam na corte, mesmo sem ser nobre.
Até a realização da pesquisa de Marques, feita inicialmente para sua tese de doutorado na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), não havia artigos científicos ou livros que tratassem do trabalho de Vandelli.

Em Portugal, explica o historiador, há uma espécie de resistência sobre a família Vandelli. Há quem diga que eles teriam colaborado com a invasão de Portugal por Napoleão Bonaparte –a mãe dele tinha origem francesa.



“Mas qualquer família portuguesa que tinha ligações com a França foi crucificada nesse período”, diz. “A ideia foi levantar a obra de um personagem importante que ficou no limbo.” Não há nem mesmo registros de sua imagem.
Marques também tentou mostrar que Portugal e o Brasil não estavam à margem do pensamento científico dos grandes centros naturalistas do mundo, como França, Alemanha e Inglaterra.

Vandelli - A História Natural ao serviço de uma estratégia económica

Por: José Luís Cardoso


 
Domenico Agostino Vandelli nasceu em Pádua, em 1735, cidade onde igualmente concluiu a sua formação universitária nos domínios da medicina e da história natural. Através dos seus primeiros livros, escritos em latim, através das notícias que mais tarde deu das colecções de objectos e espécies destinados ao seu museu privado e, sobretudo, através da correspondência que manteve com Carl Lineu, confirma-se a sua vocação de naturalista atento ao desenvolvimento científico em curso na Europa ilustrada de meados do século XVIII. A boa fama que certamente obteve junto de alguns cientistas e literatos portugueses que na época viviam em Itália, terá estado na origem do convite que lhe foi feito pelo Marquês de Pombal para que se estabelecesse neste país. Assim aconteceu, no ano de 1764, integrando uma comitiva de outros professores italianos contratados para leccionar matérias científicas (matemática, química, física e história natural) no Real Colégio dos Nobres. Esta experiência pedagógica fracassou, dada a baixa apetência da aristocracia portuguesa em proporcionar formação científica adequada aos seus descendentes. Todavia, Vandelli e os restantes professores italianos acabariam por se fixar na cidade de Coimbra a partir de 1772, preparando e dando execução à reforma iluminista dos Estatutos desta Universidade.

Vandelli leccionou em Coimbra as disciplinas de química e de história natural, fundou os respectivos Laboratório e Museu e colaborou na criação do Jardim Botânico daquela cidade. Em 1779 e anos precedentes participou activamente na criação da Real Academia das Ciências de Lisboa, podendo considerar-se como um dos principais mentores da acção da Academia no domínio económico. Os textos que publicou na colecção de Memórias Económicas, bem como os diversos manuscritos que nos legou, permitem confirmar o papel ímpar que este “falso estrangeiro” desempenhou no desenvolvimento das doutrinas e políticas económicas e financeiras em Portugal nos finais do século XVIII.

Os escritos de Vandelli destacam-se de forma nítida por entre a abundante literatura de teor económico produzida sob a égide da Real Academia das Ciências. Da sua pena saíram textos programáticos e orientadores do que viria a constituir-se como um dos mais importantes núcleos documentais para o estudo da economia e do pensamento económico português na fase final do antigo regime.

A sua preocupação básica foi a de incentivar a elaboração - a que também ele próprio se dedicou - de um inventário rigoroso dos recursos naturais existentes e potencialmente utilizáveis para fins produtivos e comerciais, quer na metrópole, quer nos domínios ultramarinos. As propostas de realização de viagens filosóficas ou os incentivos que através da Academia procurou criar para a elaboração de memórias descritivas locais e regionais, foram instrumentos concebidos com essa finalidade de criar elementos de diagnóstico que permitissem o delinear de uma estratégia de afectação óptima dos recursos disponíveis.

Por vezes, a sua abordagem reveste um carácter meramente descritivo e naturalista, limitando-se a anotações de classificação segundo o sistema de Lineu. Outras vezes, Vandelli ultrapassa essa simples descrição naturalista e centra a sua análise nos obstáculos físicos ou morais (isto é, naturais ou sociais) do desenvolvimento do sector agrícola, ou ainda nas condições que tornariam possível uma utilização eficiente e sem desperdício dos recursos naturais, humanos e técnicos, tanto na produção como na circulação de produtos e matérias primas. Esta componente de diagnóstico é coerentemente acompanhada de propostas de reforma e melhoramento que configuram uma opção estratégica de desenvolvimento económico do país tendo por base a agricultura.

Tal estratégia é delineada por Vandelli numa das suas mais célebres memórias, com o sugestivo título de “Memória sobre a preferência que em Portugal se deve dar à agricultura sobre as fábricas”, publicada no Tomo I das Memórias Económicas da Academia das Ciências. Vandelli procede neste texto a uma crítica ao sistema de proteccionismo manufactureiro seguido em França por Colbert, crítica esta que também deverá ser lida como uma avaliação negativa da congénere política económica pombalina. Também apresenta os seus argumentos a favor de uma maior liberdade de comécio interno e externo como meio de garantir a redução do preço dos bens agrícolas. Mas o que melhor caracteriza o seu texto é a aposta inequívoca numa orientação agrarista da política económica, à qual se subjugaria o processo de desenvolvimento fabril. Conforme esclarece Vandelli: “As fábricas que merecem a maior atenção são aquelas que fazem uso das produções nacionais; mas estas também devem ser proporcionadas ao número de gente que tiver a agricultura (…). O sistema de fábricas deve ser relativo à situação do país, à sua actual agricultura, às suas produções naturais, e aos diferentes ramos do comércio, que se podem fazer com as ditas produções nacionais, e com a indústria” (Vandelli 1770-1804, 149 e 152).

O agrarismo vandelliano apresenta algumas semelhanças com o discurso económico produzido pelos fisiocratas franceses. Nalguns momentos, Vandelli chega mesmo a advogar uma concepção da produtividade exclusiva da agricultura: “As produções da terra são a única e verdadeira riqueza, e a cultura dela o único princípio da sobredita” (148); e também se aproxima do conceito fisiocrático de bom preço: “Em proporção do valor dos frutos a terra será melhor trabalhada e em consequência as colheitas mais abundantes” (148). Mas ficam por aí as suas incursões no terreno teórico cultivado pelos discípulos do autor do Tableau Économique, demonstrando apenas a sua receptividade em relação à visão da actividade económica que tinha como eixo e motor o sector agrícola.

A importância do texto de Vandelli que temos vindo a referenciar não decorre apenas da clareza expositiva com que o autor apresenta as suas orientações em matéria de doutrina e política económicas. Vale também pela forma como reflecte o objecto de inquérito e o programa de reformas subjacentes ao conjunto de textos publicados na série de Memórias Económicas da Academia das Ciências de Lisboa.

A partir do ano de 1791, e após a sua jubilação da Universidade de Coimbra, Domingos Vandelli pôde acompanhar mais de perto os trabalhos da Academia. Mas a sua atenção voltou-se também para outros horizontes. Em Lisboa passou a exercer os cargos de Director do Jardim Botânico da Ajuda (que aliás havia fundado e no qual trabalhara antes de se instalar em Coimbra em 1772) e de Deputado da Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação (para a qual fora nomeado em 1788). A sua proximidade da corte vai proporcionar a oportunidade de afirmar os seus méritos como observador e analista de assuntos de âmbito político, diplomático e financeiro, ao mesmo tempo que contribui para empalidecer a sua já então contestada fama de botânico e naturalista. Esta nova etapa da sua vida revela, por conseguinte, uma mudança no objecto fundamental dos seus estudos: ao ciclo de escritos de carácter descritivo e de análise dos problemas estruturais com que se deparava a economia portuguesa, sucede-se um novo ciclo de escritos em que Vandelli surge a discutir temas de acesso reservado a um público mais vasto, com destinatários restritos, opinando sobre a condução da diplomacia externa portuguesa e esboçando propostas de reorganização financeira.

Num conjunto vastíssimo de memórias e pareceres que redigiu nos anos de 1796 e 1797 – os quais se mantiveram inéditos até 1994 – Vandelli dá conta da sua preocupação perante o envolvimento português nos confrontos de guerra e de resistência às pretensões hegemónicas francesas. A participação de tropas portuguesas nas campanhas do Roussillon e Catalunha e os riscos de um alastramento dos conflitos e palcos de guerra, justificavam a antecipação de reformas que viabilizassem o financiamento dos gastos militares adicionais. Tal era o pretexto para as sugestões de Vandelli sobre contenção de despesas supérfluas, sobre a racionalização da administração financeira, a elaboração de orçamentos e a melhoria dos sistemas de arrecadação fiscal, e ainda sobre o lançamento de novos impostos e a ampliação das fontes de rendimento da coroa através da alienação de uma parte dos seus próprios bens.

As reformas propostas por Domingos Vandelli denotam alguma sintonia com o programa de saneamento fiscal e financeiro delineado e executado por D. Rodrigo de Souza Coutinho. Uma diferença, porém, viria a revelar-se dramática para Vandelli: a sua mal disfarçada simpatia pró-francesa que lhe custou a expatriação e o exílio em 1810, após a expulsão dos franceses do nosso país. Regressaria ainda a Portugal em 1815 para morrer neste seu país de adopção no ano seguinte, mais de cinquenta anos volvidos desde a sua primeira entrada.

A desgraça a que o velho Vandelli foi votado no final da sua vida não fez esquecer a obra pioneira que no nosso país desenvolveu em prol do conhecimento das suas características e potencialidades económicas.

Referências

Vandelli, Domingos. Aritmética Política, Economia e Finanças (1770-1804). Lisboa: Banco de Portugal, 1994 (Colecção de Obras Clássicas do Pensamento Económico Português).
Vandelli, Domingos. Memórias de História Natural. Porto: Porto Editora, 2003 (Colecção Ciência e Iluminismo).
Cardoso, José Luís, 1988. Os escritos económicos e financeiros de Domingos Vandelli. Ler História, nº13, 31-51.
Cardoso, José Luís, 2003. From Natural History to Political Economy: The Enlightened Mission of Domenico Vandelli in Late Eighteenth-Century Portugal. Studies in the History and Philosophy of Science. Vol. 34:4, 781-803.
Serrão, José Vicente, 1994. Introdução a Domingos Vandelli, Aritmética Política, Economia e Finanças (1770-1804). Lisboa: Banco de Portugal (Colecção de Obras Clássicas do Pensamento Económico Português).