Cavaleiro

Cavaleiro
Os créditos da ilustração são de André Marques - www.andre.art.br

A POESIA E A FÍSICA NA SALA DE AULA

Por: ADILIO JORGE MARQUES

Será possível ensinar Física brincando? Ou através da arte poética? A proposta deste texto foi aplicada em turmas do Ensino Médio de um Colégio da rede particular de ensino do Rio de Janeiro/RJ por dois anos, abrangendo centenas de alunos. A idéia era propor uma atividade onde não houvesse apenas a preocupação com o acúmulo de conhecimentos teóricos da Física, mas também a formação interior e moral dos alunos, com uma política pedagógica para a formação de um ser integral capaz de aplicar aquilo que aprende. Era a oportunidade de escrever poesias envolvendo o tema da Física, com pontos já estudados ou não em sala de aula.

Meu primeiro desejo foi mostrar a abrangência do tema FÍSICA. Que este não se resume ao “decoreba” de fórmulas para se aplicar em exercícios ou provas, como muitos pensam. Isso porque existe um medo generalizado da disciplina, que por si mesma envolve certa habilidade lógica a ser desenvolvida, além do conhecimento de um ferramental matemático mínimo para as soluções quantitativas dos problemas. Com isso, objetivei que os alunos mudassem a visão da disciplina, que a Física não era algo “inatingível”, ou apenas para os “gênios”.

Dando também maior segurança interior aos alunos havia a oportunidade de maior liberdade à atuação do aluno em sala de aula, com espaço para atuar e participar mais intensamente da aula. Penso que maior segurança leva à melhores resultados nesta disciplina (ou mesmo em qualquer outra).

Buscou-se também o desenvolvimento da criatividade daqueles que acreditassem na proposta, pois estariam exercitando algo novo. Não havia o objetivo, no caso das poesias, da grande qualidade, mas sim da criatividade de envolver a Física em algum texto que não envolvesse desenvolvimento matemático. Estava implícita na proposta a socialização dos alunos mais tímidos com os mais extrovertidos, pois apresentariam sua poesia para a turma em um clima de respeito mútuo.

Os critérios e conteúdos curriculares para as poesias foram: clareza do texto, criatividade, pontuação e escrita correta do Português, além da adequação dos conteúdos e conceitos da Física, tais como a Cinemática, as Leis de Newton, forças, gravitação.

A proposta sempre ocorreu no horário regular das aulas de Física. Uma pequena pontuação era dada, mas isso é opcional para cada escola ou Professor.

As poesias foram apresentadas apenas uma vez por bimestre, de forma individual ou no máximo em duplas. Poderia ser de própria autoria ou adaptada de outros autores. Surgiram títulos como os exemplificados abaixo, entre vários outros. A participação média foi da ordem de 50%. A avaliação final igualmente mostra que alunos que se esforçaram em realizar as apresentações desenvolveram maior desembaraço e criatividade para expor-se em público, tornando-se posteriormente menos tímidos até para fazer perguntas em sala durante as aulas.

Acredito que algo a mais da disciplina Física fique no espírito de cada um para sua futura formação.


EXEMPLOS DE POESIAS FEITAS PELOS ALUNOS:


Poesia Física

Einstein;
Newton;
Copérnico;
Todos mortos
Mas a viva teoria da relatividade,
Leis e heliocentrismo são seu legado
Ainda utilizado
Seus corpos não estão mais entre nós,
Mas suas teorias e contribuições
na física ainda permanecem em nossa vidas;
fazendo com que estes nunca sejam esquecidos ;
ao utilizarmos os conhecimentos
que transmitiram à humanidade.


Amor e Física

Amor é como física
Tem seus momentos de movimento e repouso
Movimentos dos beijos
Repouso dos olhares
Passeando pelo nada
Comendo S = Sor + VeTe pelo parque
Ou montando gráficos pelo colégio
Física é amor são como dois corpos
Em movimento constate


Física – idade

Tempo
Espaço
Velocidade
Idade...
15 anos luz
Longe da realidade?
Não!
Relatividade!
Qual o referencial de tempo?
Pra mim
Idade
15 anos


Cinemática

Descobrimos através da cinemática
Conceitos para pormos em pratica.
Tanto o movimento Uniforme como o Variado
Nos ajudam num estudo detalhado.
No movimento Uniforme, com a velocidade constante
Sua velocidade média é ela própria num instante.
Com a velocidade aumentando progressivamente
teremos um movimento acelerado.
Com a velocidade diminuindo constantemente
teremos um movimento retardado.
Todos eles são exemplos de Movimento Uniforme Variado.


À Física

Tudo que é físico é real.
Quando falamos em física não devemos pensar numa
coisa normal
A física e suas diversas vertentes,
Às vezes nos levam a um mundo diferente.
Entramos em uma viagem de movimento, velocidade,
aceleração, gravitação.
Às vezes o móvel está no chão, às vezes não.
A história da física já é remota do passado,
Desde os tempos de Aristóteles a física é usada
para explicar o mundo e buscar resultado.
A física explica conceitos de força, ação e reação, duvida?
Olhe as leis de Newton então!
Se um pássaro está no céu a voar, é a física que
devemos “culpar”.
Se o mundo não para de girar, com a física podemos essa rotação calcular.
Se a física é de difícil conhecimento é também dela
que para o futuro chegará o exemplo.
Se Newton, Aristóteles, Torricelli não a tivessem
Desenvolvido, talvez hoje eu não tivesse aula com o Adílio.


Poesia sem Nome

Quando te encontrei
não sabia qual trajetória tomar
mas tinha certeza que
em seus olhos, os meus queriam repousar.
Uma maçã ajudou a Newton
a descobrir a gravidade,
a você me ajudou
a descobrir a felicidade
Não devemos ser vetores em equilíbrio,
Não devemos nos anular,
Seremos então metade de uma laranja,
para assim nos completar!


Sem Piedade

A gravidade puxa,
Puxa
Puxa
A pele da Xuxa
Que no mais e mais
Murcha
Murcha
Murcha,
Nos mostrando, caros amigos,
Que a velha é uma bruxa.


Poesia sem Nome 2

A física é muito legal
Para ensinar ela tem que ser genial
Quando você atinge certa idade
Você passa a entender a velocidade
Velocidade média
Velocidade instantânea
Velocidade negativa
Os alunos estão sempre na ativa
Então você aprende a aceleração,
Isto é que é emoção!
Mas a física é muito mais que tudo isto
Porém, quem sou eu para falar disto?
Estou ainda no começo de uma matéria dos
entendimentos gregos.
Quanto mais eu sei da física, mais sei que nada sei.


A Física em nossa vida

Passa dia e noite
O corpo se movimenta
A força muitas vezes faz a diferança
A velocidade por sua vez
Nem sempre marca presença
Enquanto isso
Continuamos
Sendo alvos
Da tão conhecida física
Da velocidade de uma queda
Ou do avião
À resistência do freio de um carro com o chão
Ao ver na contra-mão
Um grande caminhão.


Tobogã da Física

Grande tobogã
Alegria da criançada
Será que até nisso a Física é empregada?
A velocidade não é constante
Devido às inclinações
Uma dança constante nas acelerações
A descida é rápida
Mas depende do atrito
Durante a descida só se houve o grito
No final todos felizes
Sem na física pensar
Sim, ela está em todo lugar


Poesia sem Nome 3

Oh gravidade, como tu és bela
Então me diga: Como é possível ser igual em toda terra ?
Oh resistência do ar, por que és tão má?
Por ser mais fininha sempre me espatifo no chão,
Enquanto os outros demoram mais a chegar
Oh gravidade, sem tu tudo parece mais leve
Me permita agora lhe ensinar Torricelli
Oh velocidade final ao quadrado,
tu és igual tua irmã velocidade inicial ao quadrado
Mas não esqueça de juntar, 2 delta S a
Oh Adílio, me permita um tracadilho
o difícil foi rimar, agora pontos você terá que nos dar.


Exercício Físico

Física
Seja cinemática
Dinâmica ou Estática
Tudo você aprenderá na prática
A importância da mecânica é evidente
Pois no mundo o movimento é sempre presente
Para padronizar medidas o SI é usado
E a aceleração é em metro por segundo ao quadrado
Na fotografia estroboscópica ou de múltipla exposição
Tenho milhares de flashes de uma mesma ação
Para o movimento do pêndulo analisar
Inúmeros tempos terei que marcar
Depois, para um bom arredondamento fazer
Critérios devo estabelecer
Identificar o correto, identificar o duvidoso
Como aprender física é gostoso

A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA DOUTRINA DA TRINDADE

Por: Kadu Santoro.




O conceito de Trindade consiste num arquétipo muito antigo, todos os povos e civilizações antigas eram politeístas, e possuíam como base de suas teogonias (mitos de criação), um sistema trinitário, que geralmente era formado por uma divindade masculina, uma feminina e uma terceira representando a filiação. O cristianismo estabeleceu contatos com diversas dessas culturas, entre elas, as que mais lhe influenciaram, foram as culturas greco-romanas do mundo helenizado, persa, babilônica e egípcia. Enquanto que no Antigo Testamento, a preocupação central dos Hebreus era com a afirmação da unidade de Deus (YHWH), já no Novo Testamento, com o advento de Jesus, e a descida do Espírito Santo, os cristãos apresentaram Deus como triúno.


- Trindade do Egito: Isis, Osíris e Hórus;

- Trindade da Babilônia: Anu, Ea e Enlil;

- Trindade Helenística: Zeus, Maia e Hermes;

- Trindade Romana: Júpiter, Juno e Minerva;

- Trindade Hinduísta: Brahma, Vishnu e Shiva;

A doutrina da Trindade é o princípio organizador de quase toda a teologia cristã ocidental. Esse termo não é mencionado nenhuma vez se quer nas Escrituras, porém a doutrina pode ser inferida da mesma, a partir de textos que serviram de base para o seu desenvolvimento. A doutrina da Trindade se desenvolveu mediante a necessidade que a Igreja cristã tinha de explicar a dinâmica do relacionamento de Jesus com Deus, perante os judeus e o mundo helenizado.

Sabemos que as cartas paulinas são os documentos mais antigos do Novo Testamento (anterior aos evangelhos), e nelas encontramos algumas citações que serviram de base para a formulação da doutrina da Trindade, como por exemplo, nas saudações, onde o autor faz referência a Deus como Pai e a Jesus como Senhor (Rm 1.7b) “...graça e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo”. Essa saudação também se repete em outras cartas paulinas, como em 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Filipenses, Filêmon, além das cartas atribuídas a Paulo, como 1 e 2 Timóteo e Tito.

Quanto aos evangelhos, de maneira bem nítida, a Trindade é vista em Três momentos distintos: no batismo de Jesus (Mt 3.17) “E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”; na grande comissão e na benção apostólica, onde Jesus menciona as três pessoas (Mt 28.19) “Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. Também em João 14.26, percebemos a dinâmica trinitária, “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito”.

A doutrina da Trindade veio se desenvolvendo desde o século II até o século IV. A controvérsia ariana e a contestação de Atanásio, ocuparam o centro desse desenvolvimento, que atingiu seu ápice no Concílio de Nicéia (325 a.C.), com a elaboração do Credo (Nicéia), que tinha como fundamento principal, a exposição trinitária e explícita das três pessoas da Trindade, rejeitando totalmente as heresias monarquianista e subordinacionista, além da condenação de Ário como herege.

No período dos Pais Apostólicos, a idéia central era, que Deus é Uno e Criador, era a linha divisória entre a fé da Igreja e o paganismo. Os Pais Apologistas, foram os primeiros a tentarem esboçar uma explicação de forma intelectual, sobre a relação entre Cristo e o Deus Pai. Os Pais Polemistas também continuaram defendendo a idéia de que Deus é Uno e Criador.

O Credo de Nicéia:

“Cremos em um só Deus, Pai onipotente, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis; e em um só Senhor, Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado pelo Pai, unigênito, isto é, sendo da mesma substância do Pai, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro do Deus Verdadeiro, gerado, não feito, de uma só substância com o Pai, pelo qual foram feitas todas as coisas, as que estão no céu e as que estão na terra; o qual, por nós homens e por nossa salvação, desceu, encarnou-se e se fez homem. Sofreu, ressucitou ao terceiro dia, subiu ao céu, e novamente virá para julgar os vivos e os mortos. Cremos no Espírito Santo. E a todos que dizem: Ele era quando não era, e antes de nascer, ele não era, ou que foi feito do não existente, bem como aqueles que alegam ser o Filho de Deus de outra substância ou essência, ou feito, ou mutável, ou alterável a todos esses a Igreja Católica a Apostólica anatematiza”.

O teólogo católico Hans Küng diz em seu livro Christianity and the World Religion (O Cristianismo e as Religiões do Mundo) que a Trindade é uma das razões pelas quais as igrejas têm sido incapazes de fazer algum progresso significativo junto aos povos não-cristãos.

Segundo o catecismo da Igreja Católica Romana, afirma que: “Trindade é o termo empregado para definir a doutrina central da religião cristã... Assim, nos dizeres do Credo Atanasiano: o Pai é Deus, o Filho é Deus, e o Espírito Santo é Deus; e, não obstante, não são três Deuses, mas um só Deus. Assim, a Trindade é considerada como “um só Deus em três pessoas distintas”. Afirma que nenhuma delas teve princípio, que sempre existiram, que cada qual é todo-poderosa, nenhuma maior ou menor do que a outra.

Quem deu à tradição ocidental a sua expressão madura e final a cerca da doutrina da Trindade, foi Agostinho de Hipona. Ele aceita indiscutivelmente a verdade que existe apenas um Deus trino, e que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são simultaneamente distintos e co-essenciais, numericamente um quanto à substância; e seus escritos estão repletos de declarações detalhadas quanto a isso. Esse é o modelo trinitário que vigora até os dias de hoje na Igreja Católica.

Kadu Santoro

www.jornaldespertar.blogspot.com


Bibliografia:

- LORENZEN, Lynne Faber – Introdução à Trindade, Tradução Euclides Luiz Calloni, SP, Paulus, 2002

- MAZZAROLO, Isidoro – O Apóstolo Paulo, o grego, o judeu e o cristão, Mazzarolo Editor, RJ, 2008

- Catecismo da Igreja Católica – Edição típica vaticana, Ed. Loyola, SP, 1998

Utilização da Olimpíada Brasileira de Física como introdução à Física Moderna no Ensino Médio

Texto retirado do original publicado na Revista "Física na Escola", da Sociedade Brasileira de Física,
v. 6, n. 2, 2005.

Por: Adílio Jorge Marques e Cláudio E. da Silva

Resumo

É possível utilizar um projeto ou atividade extracurricular como a Olimpíada Brasileira de Astronomia & Astronáutica, conhecida por OBA, para introduzir a Física Moderna no Ensino Médio? Esta é a proposta deste trabalho a partir da experiência em um grande Colégio do Rio de Janeiro, capital, ocorrida desde o primeiro semestre de 2004. A OBA atinge desde o Ensino Fundamental até alunos do 3° ano do Ensino Médio. Com tal faixa de atuação, durante os meses de março e abril até a prova da Olimpíada, em maio, foram realizadas aulas expositivas aos participantes sobre aspectos da astronomia. A questão inicial era melhor preparar nossos alunos para o exame. Porém, com as exposições e discussões, muitos alunos desejaram e foram além do esperado, buscando um maior aprofundamento em questões que estão fora da grade curricular e dentro do que se estabeleceu por física moderna e contemporânea. Artigo publicado na Revista Física na Escola, v. 6, n. 2, 2005.

Introdução

Atualmente ocorre um movimento de maior interesse pela pesquisa em Física Moderna e Contemporânea (FMC) inserida na grade curricular do Ensino Médio. Muitos livros didáticos vêm trazendo em seu conteúdo comentários, partes ou capítulos dedicados ao assunto, porém normalmente destacados do contexto do restante da obra e mesmo da realidade brasileira quanto a conteúdos curriculares. Não é escopo deste trabalho analisar os livros didáticos sob a ótica da FMC. Porém, a proposta da introdução da FMC no Ensino Médio através de projetos paralelos é uma alternativa a ser considerada, seja através do estudo de um único tema em projetos específicos ou mesmo de vários tópicos da FMC quando tratar-se de um projeto pensado para ocorrer durante todo o ano letivo. No caso da experiência aqui relatada, começou como uma proposta para dois meses, mas que se estendeu por mais cinco meses devido à existência de um projeto paralelo que já existia no Colégio chamado de “Monitoria Discente”. A atual legislação educacional brasileira incentiva o ensino de novas tecnologias e conteúdos, deixando livre às escolas a adaptação curricular e quais as competências e habilidades em Física que os alunos devem adquirir [1]. Sabemos que a quebra de paradigmas educacionais muitas das vezes é lenta, enfrentando a oposição de setores da própria educação. A idéia é que acontecimentos ou projetos como a OBA podem e devem ser utilizados de muitas maneiras, onde “como recurso pedagógico, infelizmente, são pouco explorados. Fora do Brasil existem há muitos anos” [2].

A motivação discente pode começar também pelo processo de alfabetização científica, sendo que esta deve ser separada do conhecimento adquirido pelo senso comum. O interesse pela FMC no Colégio intensificou-se através da amostra sobre astronomia. As relações de causa e efeito facilitam para muitos o mecanismo do aprendizado. Dentro da realidade do ensino, porém, nem sempre é possível uma experiência prática de todos os temas estudados. O que não deve impedir a inclusão de qualquer assunto, contanto que haja uma motivação. Podemos então fazer da OBA uma destas motivações discentes? E, por que não, promover um salto cognitivo do próprio educador? As exposições realizadas em nosso projeto foram conceituais e sem a preocupação matemática inerente a muitos livros didáticos, ou mesmo como encontrada normalmente na Internet. A proposta era fazer um aprofundamento conceitual da FMC através da astronomia.

A motivação e o estudo da FMC

O evento da OBA mobiliza o Colégio e o Brasil, fazendo com que um número cada vez maior de alunos do sistema educacional brasileiro participe da prova. Como o tema astronomia não é muito discutido na maioria das escolas brasileiras, resolvemos disponibilizar um material de estudo na biblioteca. O capítulo de gravitação surge para muitos de nossos alunos brasileiros apenas no início do 2° ano do Ensino Médio. Logo, os alunos necessitam de aulas expositivas sobre temas de Astronomia, visando uma preparação para a prova da OBA em maio. Organizamos as aulas na parte da tarde dentro de outro projeto do Colégio chamado de “‘Monitoria de Física”, trabalho interno de pesquisa discente nesta disciplina e que foi inaugurado em 2004.

As aulas semanais foram organizadas à tarde (já que as aulas regulares do Ensino Médio ocorrem pela manhã), de modo a permitir a participação dos alunos através de perguntas e pesquisas individuais, e de maneira que pudéssemos medir o nível de aprendizado adquirido até o momento com o que seria cobrado na prova. Durante as aulas propusemos a exposição de variados temas, tais como:

• formação de corpos celestes: planetas, luas, cometas, asteróides, o sistema solar;

• a Terra e a Lua; seus movimentos; força de Coriolis;

• observação de corpos celestes;

• estações do ano;

• Sol; estrelas de variados tipos;

• a Via Láctea; galáxias;

• relatividade restrita;

• buracos negros;

• discussão de provas antigas;

• termos astronômicos.

Através de vídeos, figuras, gráficos, provas anteriores da Olimpíada, simulações e sítios da Internet sobre os temas, procurou-se passar uma quantidade de informação que era totalmente nova para muitos, apesar de possuírem alguma noção sobre Astronomia apenas através da curiosidade por programas de canal fechado e revistas de divulgação científica, ou ainda pelo estudo das Leis de Newton e Kepler (2° ano E. Médio).

A participação é intensa e muitos alunos se sentem motivados a continuar a ler e pesquisar sobre o assunto mesmo depois da prova da OBA. Uma minoria achou que não teria tempo de entender mais sobre o assunto e obter sucesso, afastando-se logo no início. A maior parte do grupo original que permaneceu não só resolveu discutir os temas propostos, como levantou dúvidas relativas à Astronomia e à FMC.

Alguns dos temas abordados, derivados das provas anteriores e das aulas/discussões estão abaixo assinalados. Procuramos destacar, antes das perguntas coletadas dos alunos, as áreas da FMC que abordam o assunto em questão:

• Relatividade Especial: como o tempo e o espaço podem variar com o aumento da velocidade? Podemos viajar no tempo? Como Einstein chegou aos princípios da relatividade?

• Quântica e a natureza da luz: onda ou partícula? Como as cores atuam no espalhamento? O que é o Modelo Padrão?

• Relatividade Geral: a luz pode ser desviada por corpos muito maciços?O espaço é curvo?

• Nuclear: os processos nucleares dentro das estrelas mostradas através no diagrama H-R podem ser reproduzidos pelo homem? Como os elementos químicos se formam? É quase o mesmo processo que acontece nas usinas nucleares?

Conclusões

Após as provas da OBA ao longo deste Projeto (e que já dura seis anos) verificamos o seu pleno sucesso. O Projeto de “Monitoria Discente”, atualmente chamado de “Iniciação Científica no Ensino Médio” continuou à tarde, e alguns destes temas foram conceitualmente aprofundados.

A utilização de montagens para o estudo do espectro das ondas eletromagnéticas e do espectro luminoso motivou pesquisas teóricas sobre corpo negro e as relações físicas e históricas com a mecânica quântica [3]. Buscamos, desta forma, contextualizar a FMC envolvendo sempre no início a Astronomia.

Concluímos que a Astronomia serviu como ponto de partida para as pesquisas em FMC. Após a experiência relatada, pareceu-nos possível propor o ensino da FMC através da Astronomia. Não foi possível ainda abrir espaço na grade curricular do Colégio Santo Inácio para a FMC, principalmente devido ao modelo de vestibular adotado em nosso país, mas projetos independentes, de curta ou longa duração, podem ser ministrados com alunos que realmente se interessem pelo tema, motivando os demais colegas e demonstrando a importância da FMC para toda a escola. Mostras de História da Ciência ou Feiras de Ciências/Tecnologia são exemplos. O próprio aumento drástico de interesse pela OBA no Colégio mostra que a persistência e a divulgação podem levar à criação de uma cultura que propicie a inclusão da FMC nas escolas brasileiras.

A importância da Astronomia na história das civilizações humanas, sua relação direta com o início e existência da vida na Terra, e talvez fora dela, e os processos químicos envolvidos, podem ser motivadores para projetos inter-áreas, contextualizando os conteúdos ensinados [4].

Referências

[1] F. Ostermann, Caderno Brasileiro de Ensino de Física, 19, 176, 2002.

[2] J. B. G. Canalle, D. F. Lavouras; R. H. Trevisan, C. M. R. de Souza, E. S. Júnior e G. B. Afonso, Física na Escola, 3, n. 2, 11, 2002.

[3] C. R. C. Tavolaro e M. A. Cavalcante, Física Moderna e Experimental, Ed. Manole: São Paulo, 2003.

[4] A.C. Lopes, Políticas de Currículo: Mediação por Grupos Disciplinares de Ensino de Ciências e Matemática, in: Currículo de Ciências em Debate, Papirus Editora: Campinas, 2003, cap. 2, p. 45-75.

O que é etnocentrismo?

Por Adílio Jorge Marques

Para o famoso antropólogo francês Claude Lévi-Strauss (1908-2009), etnocentrismo seria a recusa em “admitir o próprio fato da diversidade cultural”. Temos aí um tema que nunca saiu da pauta acadêmica e, hoje, está inconscientemente presente nas discussões jornalísticas.

Assim, etnocentrismo seria a tendência do pensamento, especialmente ocidental, de considerar as categorias, normas e valores da nossa própria sociedade, ou cultura, como parâmetro passível de ser aplicado a todas as demais. Atitude que, hoje reconhecemos, atribui juízo de valor meramente pessoal, ou mesmo de determinadas “autoridades”, atrelando uma “metodologia sociológica” para a diferença entre as culturas. Será que alguém já fez isso algum dia na vida?

O papel do cientista social, ou dos que trabalham com a cultura, não é dizer como “deve ser” uma sociedade, mas como “ela é” (oposição entre “dever ser” versus “ser”). A busca do entendimento do por que algo aconteceu, sem impor a sua opinião, lembrando que a diversidade também é demonstradora de uma cultura. Privilegiar um referencial teórico-prático que segue o padrão da racionalidade, escolhendo um único tipo de cultura e educação com ele compatíveis, cria o conceito de “cultura hegemônica” e “culturas subalternas”. Esta é uma atitude combatida atualmente. As culturas diferentes da nossa, ou com orientações incompatíveis com o referencial escolhido, eram até o estabelecimento da Antropologia e da Sociologia alvos de uma redução das suas especificidades e diferenças.

O (também) etnólogo Lévi-Strauss criticou o “falso evolucionismo” racionalista como a tentativa de suprimir a variedade cultural. A diversidade, inerente ao nosso mundo, evidencia que o pensamento etnocêntrico não reconhece a variedade de culturas como importante para compreendermos as nossas origens, de onde viemos e para onde vamos. Para Strauss, as culturas ocidentais “olham” para as outras com o olhar atual, do hoje, criando um anacronismo na formação de opinião. Reconhecer isso prova que não há uma “raça superior” a outra, apenas diferenças simbólicas.

Antes de Strauss, os academicistas classificavam as sociedades tribais como “bárbaras”, principalmente as ágrafas, ou “sociedades frias”. Só valia como prova da “evolução cultural” a escrita de um povo, a existência de documentos que marcassem a diacronia histórica. Era uma espécie de medida do “progresso e da tecnologia” daquela cultura que estava sendo estudada. Até os sistemas políticos estudados deveriam ser próximos do que era estruturado mentalmente pela sociedade ocidental. Havia uma linha de progresso, como espécie de “medidor das sociedades”, apesar das grandes diferenças que existiam entre elas. A humanidade deveria tornar-se una e idêntica em si mesma com o passar do tempo. A diversidade não passaria de etapas em um único desenvolvimento geral.

O estudante, em qualquer grau, mantendo o perfil sociológico moderno, deve ter em mente que o etnocentrismo deve ser evitado enquanto atitude metodológica. Estamos em uma sociedade global, diversificada, múltipla: “Há muito mais culturas humanas do que raças humanas” explicita Lévi-Strauss no seu texto “Raça e História” (Cap. XVIII, Raça e História. LÉVI-STRAUSS, C. Antropologia Estrutural Dois. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1976.). A diversidade não deve ser a observação fragmentada de cada um de nós. Ela existe em função das relações que une os grupos, muito mais do que o isolamento destes. Ainda Strauss: “não existem povos infantes: todos são adultos, mesmo os que não mantiveram um diário de sua infância e adolescência”.

A afirmação simplista, de uma suposta “igualdade natural” para todos, pode levar a equívocos, pois não é possível colocar de lado a diversidade que existe, de fato, entre as culturas. Isso exterminaria a diversidade que tanto nos atrai, ou seja, a beleza que há na diferença, no novo que desejamos conhecer.

O homem se realiza em culturas tradicionais e diversas. E as modificações se explicam em função de situações definidas no tempo e no espaço que temos que buscar entender, sem preconceitos.

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS IDEIAS SOBRE A CRIAÇÃO DO UNIVERSO

POR: ADILIO JORGE MARQUES.


"Daqui em diante não existe uma harmonia feita somente para o benefício de nosso planeta, mas a canção que o Cosmo canta a seu senhor e centro, o Logos Solar".

(Johannes Kepler)


O Universo mostra-se como uma obra magnífica que para muitos é obra do acaso, para outros, fruto de uma ordenação que não conseguimos atingir. A Mecânica Quântica, importantíssima contribuição da Física ao entendimento da ciência, mostra-nos microscopicamente que onde pensamos haver o vácuo ocorre a formação e aniquilamento constante de partículas. O vácuo absoluto parece não existir, talvez corroborando o horror que Aristóteles tinha ao vazio. Muitos objetos cósmicos estranhos mostram-se macroscopicamente ao olhar dos pesquisadores; outros já foram, a princípio, revelados.

A Criação, conforme as culturas antigas descrevem, é o começo do mundo e sua ordem intrínseca (cosmos, no sentido literal), sendo arquétipo para todos os mitos que tentam mostrar o início dos tempos. No sentido filosófico, o mito da Criação expressa os fundamentos ontológicos de uma cultura (ou sua Metafísica). Por outro lado, o desenvolvimento das idéias científicas concernentes à origem do cosmos é a Cosmologia. Desde o pré-socrático Tales de Mileto tenta-se explicar o início de tudo. Tales marcou a transição, no Ocidente, do pensamento místico para um considerado mais científico, em termos modernos, ao dizer que o começo de tudo foi com a água. Porém, uma água não apenas mística, etérea, mas uma entidade ou substância de todo o começo, sendo também o Logos - o princípio ou lei de todas as coisas. Isso é importante, pois nos fornece um sentido cosmológico mais amplo, dando também à natureza a condição de ser a causa e, também, a manifestação. Ele tem o mérito maior de ser o primeiro filósofo ou pensador da Antiguidade Ocidental a tentar propor uma explicação para a Criação a partir de leis iniciais.

De Aristóteles, passando por Johannes Kepler e Isaac Newton, até hoje, questões concernentes ao começo do Universo têm atraído a atenção de cientistas, principalmente astrônomos. A ênfase nas teorias algumas vezes causa conflitos entre cientistas e religiosos. Atualmente, a Teoria do Big Bang, explicativa para a origem do Universo conhecido pelo homem, é o modelo cosmológico mais aceito. Esta teoria nos diz que o Universo teria começado com a explosão de um ponto, ou singularidade, de matéria extremamente condensada, passando por um período de crescimento acelerado (Teoria Inflacionária) e continuando sua expansão até os dias de hoje. E questões surgem, onde os cientistas e filósofos modernos tentam descobrir fatos novos que ajudem a entender o cosmos: o Universo poderá se expandir para sempre, devagar ou cada vez mais rápido? Ou expandir até se contrair novamente, a partir de um único Big Bang? Ou mesmo oscilar entre expansão e contração com vários inícios subseqüentes?


COSMOLOGIA

Cosmologia é o estudo, em larga escala, da estrutura e da evolução do Universo. O estudo da origem das estruturas visíveis do Universo, desde os imensos aglomerados de galáxias até o sistema solar, se situa nos domínios da Cosmogonia, apesar de que muitos cientistas hoje em dia tendem a aceitar tudo como Cosmologia. Apenas no século XX as questões fundamentais da Criação puderam ter respostas mais precisas. Com as últimas descobertas observacionais, as questões básicas da cosmologia estão sendo exploradas dentro dos parâmetros da mais aceita das Teorias: a do Big Bang (ou Grande Explosão).

Em 1543, Copérnico levantou a hipótese de que a Terra poderia não ser o centro do Universo. Uma conseqüência lógica da teoria de Copérnico é destituir a nossa galáxia de qualquer localização preferencial no espaço. Dessa forma, somos levados ao componente-chave da cosmologia moderna, o princípio cosmológico de Copérnico, que estabelece que o nosso ponto de localização no Universo não difere em nada de qualquer outro ponto do espaço. Ele seria localmente isotrópico - parece o mesmo em diferentes direções, visto a partir da Terra.

A teoria de Einstein de um Universo estático só perdurou até 1922, quando Alexander Friedmann, matemático e meteorologista russo, e depois o clérigo belga Georges Lemaître (em 1927), ambos trabalhando de forma independente, descobrissem um conjunto de soluções mais simples para as equações da gravitação de Einstein para um Universo em expansão.


O BIG BANG

A teoria do Big Bang, ou da Grande Explosão, descortina um imenso panorama da evolução cósmica. Há cerca de 14,5 bilhões de anos iniciou-se a expansão cósmica. As condições existentes neste instante inicial e antes dele são matéria para especulações que a teoria convencional não contempla. Segundo esta teoria o Universo primitivo era muito quente, muito denso, e talvez também muito irregular. A irregularidade e a anisotropia decresceram gradualmente. Alguns minutos após o Big Bang ocorreram algumas reações nucleares; basicamente, todo o hélio existente no Universo foi sintetizado nessa ocasião.

À medida que o Universo se expandia também se resfriava, assim como acontece com o ar quente que se expande e se esfria. A radiação cósmica de fundo observada atualmente nos radiotelescópios é um vestígio residual dessa era primitiva; ela tem sido apropriadamente chamada de radiação remanescente da explosão primordial (aproximadamente um minuto após a explosão). À proporção que a matéria do Universo esfriava, ela ia se transformando em galáxias, segundo uma determinada interpretação da evolução do Universo. As galáxias se fragmentaram em estrelas e se mantiveram agrupadas, para formar imensos agregados em vastas regiões do espaço. Com o nascimento e a morte das primeiras gerações de estrelas, os elementos pesados, tais como o carbono, oxigênio, silício e o ferro, foram sendo gradualmente sintetizados. Ao se transformarem em gigantes vermelhas as estrelas liberavam matéria que se condensava em grãos de poeira.

Novas estrelas se formavam a partir das nuvens de gás e poeira. Em pelo menos uma dessas nebulosas a poeira fria se aglomerou em torno da estrela, formando um fino disco. Os grãos de poeira aglutinaram-se uns aos outros, dando origem a corpos maiores que aumentaram de tamanho em razão de sua atração gravitacional, formando uma grande variedade de corpos, desde os minúsculos asteróides até os planetas gigantes, que constituem o nosso sistema solar.


OS MODELOS

Os modelos alternativos viáveis do Big Bang são: os modelos aberto e fechado de Friedmann-Lemaître; o modelo marginalmente aberto de Einstein-de Sitter; e o Universo de Lemaître.

Se o Universo estiver sempre se expandindo na velocidade atual, ele terá agora cerca de 14,5 bilhões de anos de existência. Considerando-se a hipótese de que a expansão estará em algum tempo decrescendo, como mostram os modelos aberto e fechado, o Universo teria então menos de 14,5 bilhões de anos. O modelo aberto de Friedmann-Lemaître tem aproximadamente 20 bilhões de anos. O modelo fechado tem a idade mais baixa, uma vez que a desaceleração deve ter o valor máximo neste modelo para fazer reverter à expansão. Depende da taxa considerada de desaceleração. O Universo de Lemaître tem muito mais de 14,5 bilhões de anos, porque há um longo período de calmaria, durante o qual a expansão quase estaciona.

Tanto o modelo aberto de Fredmann-Lemaître como o Universo de Lemaître mostram a possibilidade da eterna expansão.


EVIDÊNCIAS DO BIG BANG

Refere-se à idade do Universo, ou o lapso de tempo transcorrido desde o Big Bang até hoje. Estima-se em 13,5 bilhões de anos através das seguintes proposições: velocidade de afastamento das galáxias; pela geologia (em relação à idade da Terra, por exemplo); pela medição radioativa; através dos modelos de evolução estelar. O mapeamento das fontes de rádio do Universo também é importante neste cálculo.

Provavelmente a evidência mais persuasiva aceita em favor do Big Bang seja a existência de um fundo cósmico de radiação de microondas, o resíduo arrefecido da bola de fogo primordial, e que constituía o Universo primitivo. Microonda é o termo usado pelos rádio-astrônomos para designar as ondas de rádio de pequeno comprimento de onda (inferior a alguns centímetros), no qual o Universo é bem rico. Seu valor é em geral de 10-5 Watts de potência, ou seja: 0,00001 Watts, equivalente a uma temperatura de 2,7 graus Kelvin. Essa energia de fundo é considerada um resquício da explosão inicial. Outra evidência interessante se refere ao argumento de que certos elementos e isótopos (elementos químicos de mesmo número de prótons) podem ter sido sintetizados no Big Bang, devido às altas temperaturas e densidades do momento. Também existe o fato de que não há outras fontes plausíveis de explicação para pelo menos um elemento leve, o hélio, e um isótopo do hidrogênio, o deutério, existentes no Universo.

O INSTANTE INICIAL

O instante inicial, o tempo zero, é chamado de era de singularidade. A menos de 10-43 segundos (o tempo de Planck) a ciência nada pode explicar com certeza. O que teria dado partida à Criação do Universo? Porque o Universo é do jeito que é? Sabemos que qualquer modificação inicial, ou nas constantes universais da Física, teria ocasionado um Universo totalmente diferente do que é hoje, provavelmente não capaz de suportar qualquer espécie de vida.

Qual é a probabilidade estatística de que o Universo, a partir de uma explosão original, viesse a ser como é hoje? Sabemos matematicamente que tal probabilidade é extremamente pequena, ínfima. Os cálculos estatísticos são somente um resultado aproximado, talvez uma amostragem usada sempre que se necessita precisar algo que não é possível ser totalmente explicado pela matemática usual do problema ou quando queremos saber a margem de erro dos mesmos. Logo, nada podemos dizer com exatidão desse momento da Criação. “Tudo o que conhecemos encontra sua origem num oceano infinito de energia que tem a aparência do nada”, disse o Físico John Wheeler (Guitton, J.; Deus e a Ciência; 1991; Ed. Nova Fronteira).


EVENTOS DA CRIAÇÃO

Podemos separá-los de forma simples:

• Primeiro - O Big Bang, até o tempo de Planck.

• Segundo – As Eras: criação das partículas, Eras Hadrônica e Leptônica (até 1 segundo após a explosão), passando pelas Eras da Radiação, da Matéria, e do Desacoplamento (a maior e mais importante, a partir de 300 mil anos após o início de tudo, pois é neste período que as estrelas, galáxias, etc., se formam). Ocorre a expansão do Universo.


REFERÊNCIAS

• Guitton, Jean; Bogdanov, Grichka; Bogdanov, Igor; Deus e a Ciência; Ed. Nova Fronteira; 1991;

• Weisskopf, Victor F.; The Origin of the Universe - An introduction to recent theoretical developments that are linking cosmology and particle physics; American Scientist; Vol. 71; 1983;

• Silk, J.; O Big Bang; Ed. UNB; 1988;

• Hawking, Stephen; O Universo numa Casca de Noz; Ed. ARX; 2001.

MARTINISMO, UMA VIA CARDÍACA

Por: Adílio Jorge Marques.

 

 
“De fato, o emprego habitual dos nossos dias é semelhante
a um sacrificar-se recíproco, enquanto que percorrendo
o caminho traçado pela consciência da nossa fragilidade
poderíamos reciprocamente encaminhar-nos no bem”.

 
ECCE HOMO
(Louis Claude de Saint Martin - O Filósofo Desconhecido)

 

 
A Tradição Primordial sempre esteve presente em nossa civilização de alguma forma. Algumas vezes através de personalidades que nos legaram profundos conhecimentos, e que muitas vezes transformaram a nossa história. Organizações mais ou menos hierarquizadas procuram, em todos os tempos, trazer a Luz Maior para este mundo. Provavelmente muitos já ouviram falar de várias linhagens Iniciáticas com tal propósito, sendo o Martinismo é uma dessas Tradições.

 
O termo deve-se a Louis Claude de Saint Martin, conhecido também por “Filósofo Desconhecido”. Viveu na França em uma época turbulenta política e intelectualmente (segunda metade do século XVIII), procurando amenizar com Saint Germain e Cagliosto os efeitos que o Terror pós-Revolução Francesa trouxe aos homens da Europa. Foi considerado por seus pares como “o mais sábio, o mais instruído e o mais elegante teósofo moderno” (Joseph de Maistre). Assim, nos salões e pequenos círculos de estudos na França e fora dela, suas instruções ficaram conhecidas como “Martinismo”. Saint Martin negava ser o verdadeiro autor do que ensinava. Rendia homenagem aos seus Iniciadores, legando um conhecimento místico a todos que se comprometiam com uma transformação interior verdadeira e não dogmática, e que leva a uma nova visão do mundo. A base era uma Iniciação por ele transmitida e que deveria perpetuar simbolicamente o conhecimento que deveria elevar o nível interior da humanidade. Logo, seu objetivo não era apenas consigo mesmo ou com um grupo/Organização em especial, mas com a própria humanidade.

 
Importante descrever brevemente os relacionamentos de Saint Martin, assim como sua biografia, o que deveria ser buscado e aprofundado por todos os que quisessem conhecer uma diferente forma de pensar dos setecentos. Nasce a 18 de janeiro de 1743 em Amboise, França, tendo sido educado e orientado sabiamente por sua madrasta, que aguçou desde jovem sua visão mística e cristã. Estuda as Leis e se forma, mas seu interesse filosófico o afastou da profissão. Entrou para a carreira militar aos 22 anos em Bordeaux, o que lhe deu mais tempo para os estudos místicos. Um de seus amigos oficiais era membro da “Ordem Maçônica dos Elus-Cohen do Universo”, cuja orientação pertencia a um místico chamado Martinès de Pasqually. Ambos logo se tornaram amigos.

 
A vida do Mestre dos Elus-Cohen nunca foi bem esclarecida pela história. Sabe-se que fundou sua Ordem em 1754 em Paris e que rapidamente difundiu seus conhecimentos em várias Lojas pela França, local e época das buscas e descobertas filosóficas. Em 1771 Saint Martin largou o exército para se dedicar melhor ao estudo filosófico, tornando-se secretário pessoal de Pasqually. Em 1772 problemas pessoais não conhecidos obrigaram Martinès a se mudar para o Haiti, aonde veio a falecer logo depois (1774). Sem a presença física de seu fundador a Ordem dos Elus-Cohen caiu progressivamente até entrar em dormência. Martinès havia passado pouco de muito do seu “saber teúrgico”, assim como conhecimentos gerais herdados da Tradição, o que acelerou o processo de dissolução, apesar de algumas poucas Organizações contemporâneas ainda outorgarem para si o nome desta Ordem.

 
Jean Baptiste Willermoz, comerciante de Lyon e também discípulo de Martinès, torna-se amigo de Saint Martin. Estrutura o “Regime Maçônico Escocês Retificado”, do qual Saint Martin participou por algum tempo até também desistir, optando por um caminho próprio e interior. Este caminho pessoal, chamado depois de “via cardíaca” por seu criador Louis Claude de Saint Martin, era uma clara alusão de que existia alternativa, menos trabalhosa e perigosa do que os meios “mágicos”, de se chegar ao contato interno com o Criador. Como disse em suas cartas e obras, a “parafernália” utilizada pela teurgia, com “intermediários”, era um caminho mais próprio aos enganos do que o caminho das preces e dos que tiveram seu coração tocado pelo “Amor Crístico”.

 
Saint Martin Viajou por vários países da Europa e conheceu as obras filosóficas de Jacob Boehme aos 45 anos, o que o entusiasmou e transformou de tal maneira que buscou aprender alemão para poder traduzir do original as obras de Boehme. E assim o fez até o fim de seus dias em 13 de outubro de 1803. Disse certa vez Louis Claude de Saint Martin: “É a Martinès de Pasqually que devo minha Iniciação às verdades superiores, e é a Jacob Boehme que devo os passos mais importantes que dei nessas verdades”.

 
Saint Martin escreveu várias obras assinando-as como “Filósofo Desconhecido”. São livros basilares para aqueles que buscam o entendimento Martinista:

  • Ecce Homo
  • Dos Erros e da Verdade ou Os Homens Convocados ao Princípio Universal da Ciência
  • Quadro Natural das Relações entre Deus, o Homem e o Universo
  • O Homem de desejo
  • O Novo Homem
  • O Espírito das Coisas
  • O Ministério do Homem-Espírito
  • Cartas póstumas

 As obras Martinistas não somente explicam a natureza do e para “o homem”, mas associam todos os conhecimentos disponíveis até aquele século ao princípio de que o espírito humano pode se tornar o centro da busca sem dogmas ou magias estapafúrdias. Em resumo, o espírito e finalidade do Martinismo podem ser sintetizados deste modo:

 
Devemos abandonar o “velho homem”, tomar em nossas mãos o destino e deixar de sermos “Homens da Torrente”. Pelo exercício da própria vontade deve se tornar um “Homem de Desejo” e fazer nascer em si mesmo, com a ajuda Divina, um “Novo Homem”. Quando tiver alcançado tal estado, por uma regeneração completa de seu ser e por um segundo nascimento interior, voltará a ser o “Homem-Espírito” que era na Criação. Estará enfim cumprindo o “ministério” que o Invisível lhe havia confiado na origem do mundo. Pela força de seus direitos primitivos ele poderá trabalhar para a Regeneração e Reintegração de si e da Criação na Unidade, aliás, nosso principal objetivo nesta vida ou em alguma próxima.

 
Como reencontrar esse estado paradisíaco, para o qual o ser humano foi criado no início dos tempos e acabou por perder, como diz Pasqually em sua obra “Tratado da Reintegração dos Seres” e a própria Gênese bíblica? Aí está a busca Martinista. A busca pela REINTEGRAÇÃO dos homens. Se a humanidade perdeu sua potencialidade primordial, enquanto Pensamento, Palavra e Ação, dela conserva, no entanto, o germe. Basta que aplique sua vontade para cultivar essa raiz e fazê-la frutificar.

 
Este é um caminho da VONTADE. Entre o destino, por vezes aleatório, e a Divina Providência vivida pelos homens, é necessário então escolher. Àqueles ligados à cadeia Iniciática Martinista, tornar-se um Homem de Desejo é empreender a reconstrução de seu Templo Interior. Para edificar esse eterno Templo, apóia-se em dois pilares simbólicos: da Iniciação e dos ensinamentos, ou seja, o pilar do Conhecimento. A Iniciação marca efetivamente o começo de seu grande trabalho, pois é o momento em que ele recebe a “semente de luz” que constitui o alicerce de sua obra, segundo Louis Claude de Saint Martin. Cabe-lhe em seguida trabalhar para “manifestar e irradiar essa Luz Maior”. As Iniciações Martinistas constituem um momento privilegiado, reencontro de um Homem de Desejo com seu Iniciador. Elas só existem ou são reconhecidas quando realizadas de corpo presente entre ambos. Atitudes que representam terrenalmente uma transformação maior que deveria ocorrer no INTERIOR de cada um. Para Saint Martin, é aquela pela mudança qual “podemos entrar no coração de Deus e fazer entrar o coração de Deus em nós, para aí fazer um casamento indissolúvel...”. A eliminação dos vícios e a busca das virtudes.

 
Para estudar seus ensinamentos, e principalmente seus símbolos, Saint Martin selecionou e formou um Círculo de discípulos conhecidos pelo nome de “Sociedade dos Íntimos”, que trabalhava com a mais pura espiritualidade interior. A partir do século 19, e após a sua morte, seus ensinamentos continuaram ininterruptamente de discípulo a discípulo, como podemos ver no esquema abaixo. Em 1891, Papus e Augustin Chaboseau criou a “Ordem Martinista”, conhecida na França como a primeira organização deste caminho místico. Com a morte de Papus em 1916 e as turbulências da I Grande Guerra, o original Conselho Supremo desta Ordem foi-se desfazendo e muitos de seus membros criaram suas próprias Organizações Martinistas.