Por: Adílio Jorge Marques.
O avanço do conhecimento europeu deve muito aos naturalistas. Dentre eles destaca-se este que foi um dos mais prolíficos, com trabalhos em áreas variadas que vão do social ao econômico, contribuindo para a gênese da taxonomia moderna.
Domingos Agostinho Vandelli (1735- 1816) foi um naturalista, denominação que se dava aos cientistas entre os séculos XVII a XIX. Atingiu fama ao dar a Portugal muito da organização iluminista que o país conseguiu entre os séculos XVIII a XIX. Seu pai, Girolamo Vandelli, fora médico e professor na Universidade de Pádua, sendo sua mãe conhecida por Francesca Stringa. Tornouse doutor em Filosofia Natural pela Universidade de Pádua, Itália, sua terra natal.
Publicou muitas obras sobre os mais variados assuntos naturais, econômicos e sociais, tendo consolidado seu nome na História pelo trabalho em Portugal, em especial na Universidade de Coimbra, inicialmente pela publicação do "Dicionário dos Termos Técnicos de História Natural Extraídos das Obras De Lineu" (1788), assim como pela edição de "Florae Lusitanicae et Brasiliensis Specimen", obras de referência na Europa.
Uma das características mais marcantes do naturalista Vandelli foi a de converter temas como agricultura e natureza para uma finalidade prática, visando assim a recuperação dos reinos europeus, em especial Itália e Portugal. A fisiocracia sempre esteve presente em suas memórias e ensaios como na demonstração da realização prática dos estudos efetuados no campo das ciências naturais, ou seja, na passagem direta do saber teórico para a práxis. Os procedimentos para conhecer os "segredos da natureza" deveriam estar ao alcance do máximo possível de pessoas para torná-los disponíveis ao uso daqueles que estivessem em condições naqueles tempos difíceis no que tangia à educação. Coimbra em especial marcou o local inicial na trajetória de Domingos Vandelli em terras lusitanas.
O percurso do naturalista é bem elucidativo da simbiose entre o domínio da história natural e as preocupações de natureza econômica que o envolviam, assim como norteavam seus colegas daquela época. Vandelli adotou tanto os princípios fisiocráticos italianos das Escolas de Milão e Nápoles quanto os princípios do liberalismo inglês. Nas décadas que se seguiram ao terremoto de Lisboa, ocorrido em 1755 e que destruiu grande parte da cidade, mestres como ele e outros estrangeiros contratados que chegavam a Portugal sabiam que tinham por missão transformar a cambaleante economia do país.
Perceberam que o desenvolvimento da indústria, ou industriosidade (compreendida aqui como qualquer atividade empreendedora com fins comerciais e científicos) do país seria a salvação modernizadora do reino português, já atrasado em relação aos ingleses e franceses, por exemplo. Era importante e fundamental promover novas técnicas nas várias culturas, visando uma maior produtividade. A aclimatação de novas plantas, por exemplo, era vista como atividade científica necessária, pois poderiam ser úteis ao mercado e às artes em geral, principalmente num reino tão vasto (incluindose, claro, todas as colônias além-mar, como o próprio Brasil).
Desde 1759, Domingos manteve contato com o renomado botânico, zoólogo e médico sueco Carlos Lineu (1707-1778), reconhecido mundialmente pela criação da nomenclatura binomial e da classificação científica que estudamos em Biologia, na qual utilizou os princípios da classificação racional iluminista. Lineu é assim considerado o pai da taxonomia moderna e foi um dos fundadores da Academia Real das Ciências da Suécia, de grande importância para as ciências da Europa.
Domingos Vandelli dedicou-se especialmente ao Museu e ao Jardim Botânico de Coimbra em conjunto com o físico e também italiano Giovanni Dalla Bella.
Veja o restante da matéria no site da Revista LEITURAS DA HISTÓRIA, nº 30, que esteve nas bancas no mês de junho/2010:
http://leiturasdahistoria.uol.com.br/ESLH/Edicoes/30/imprime174333.asp
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