Cavaleiro

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Os créditos da ilustração são de André Marques - www.andre.art.br

O método alegórico de interpretação bíblica e suas origens

Por: Kadu Santoro

O método alegórico faz a aproximação dos textos bíblicos por analogia figurada, mostrando que o sentido literal da própria palavra é insuficiente para revelar o significado da verdade dos mistérios cristãos. Assim, por intermédio de alegorias, que são metáforas, símbolos e mitos, acreditam expressar de forma mais profunda a essência da doutrina.

A Escola de Alexandria, foi sem dúvida, a maior representante da interpretação alegórica das Escrituras do Antigo Testamento. Seu sistema interpretativo teve influência direta da filosofia grega, principalmente de dois filósofos muito importantes. O primeiro foi Heráclito (Éfeso, 540 a.C.? – 475 a.C.?), ele criou o conceito de “huponóia”, que significa um sentido mais profundo, para ele, o verdadeiro sentido do texto, estava além das palavras. O segundo foi Platão, ele formou um conceito de que o mundo em que vivemos, é apenas uma representação do que existe no mundo perfeito das realidades imateriais, o “mundo das idéias”.

Fílon de Alexandria, judeu erudito, também foi influenciado pela filosofia grega, principalmente pela filosofia platônica, para ele Moisés e Platão eram dois heróis. Além de possuir uma sólida formação judaica, Fílon era um grande estudioso das Escrituras veterotestamentárias traduzidas para o grego (LXX – Septuaginta), da qual, estabeleceu de forma alegórica (alegorese), uma harmonização dessas Escrituras com a filosofia grega. Fílon escreveu vários comentários bíblicos utilizando o método alegórico, como por exemplo, nos seus comentários de Gênesis, um deles é sobre a criação do jardim do Éden (Gn 2.8-14), onde o rio Gion (2.13) significa “coragem” e circunda a terra de Cuxe, que significa “humilhação”; o sentido alegórico encontrado nessa passagem, é que a coragem dá demonstrações de bravura diante da covardia. Já o rio Tigre (2.14) significa temperança, pois como um tigre, resiste resolutamente ao desejo. O Eufrates (2.14) não se refere ao rio. O sentido alegórico é “justiça”. O rio Pisom (2.11) significa “mudança na boca” e Havilá “tagarelar”, que Fílon interpreta como significando “insensatez”. A interpretação alégórica da passagem, é que a insensatez é destruída pela “mudança na boca”, que é o falar com prudência.


A Escola de Alexandria usava uma teologia com base na interpretação alegórica das Escrituras, formada pela combinação entre a erudição filosófica grega e as verdades fundamentadas nos escritos veterotestamentários. Para essa escola, as Escrituras Sagradas tinha a função de narrar os acontecimentos, sugerir ensinos, conceitos morais e exigir a busca de um sentido mais profundo. Os principais representantes dessa escola foram: Panteno (fundador), Clemente de Alexandria (150-215 d.C.) e Orígenes (185-253 d.C.). Clemente de Alexandria, foi o primeiro a lidar seriamente com questões de interpretação bílbica, usava a interpretação alegórica para descobrir o sentido oculto das passagens bíblicas, e harmonizar os dois Testamentos. Para ele, o objetivo de Deus em revelar-se alegoricamente, era para ocultar a verdade dos incrédulos e descortiná-la apenas para os realmente espirituais. Orígenes era um estudioso muito respeitado, para ele, a melhor maneira de se compreender a Bíblia, é através da perspectiva platônica. Para ele, a Bíblia contém segredos que somente a mente espiritual pode compreender. O sentido literal é valioso, mas algumas vezes, obscurece o sentido primordial, que é o sentido espiritual. O sentido literal é apenas para os neófitos, mas o espiritual é para os maduros na fé. Orígenes influenciou muitos Pais da Igreja como: Dionísio o Grande, Eusébio de Cesaréia e Cirilo de Alexandria.


Bibliografia:
BOGAZ, Antônio S. - Patrística: Caminhos da tradição cristã – Paulus – SP – 2008. FRÖHLICH, Roland, Curso Básico de História da Igreja, São Paulo, Paulus, 1987.


Um comentário:

  1. Para os cabalistas, a Torá tem uma roupa, um corpo, uma alma e a alma da alma. assim como não devemos julgar um homem por sua roupa ou aparência física, devemos ir à alma da alma da Torá. Creio que este princípio é válido para muitas outras escrituras sagradas, do Ocidente e do Oriente.

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