Cavaleiro

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Os créditos da ilustração são de André Marques - www.andre.art.br

O Amor e a Física na obra “O Banquete” de Platão

Por: Adílio Jorge Marques.

O discurso de Erixímaco na obra “O Banquete” de Platão é aquele que transpassa o homem e atinge a natureza, physis. Com a visão de um médico, visão naturalista, Eros aparece aqui como um deus poderoso, princípio e devir de todo o mundo físico, e de certa forma isso me inspirou para este texto. É possível relacionar ambos, amor e Física? Muitos dizem que sim. A arte ou técnica da Medicina é exaltada no discurso desse médico grego, mas para mim a Física também é uma techné. Para ilustrar tal relação apresentarei os argumentos abaixo envolvendo pessoas e destacarei em negrito, quando interessante, as principais palavras ou conceitos da Física.
A despeito do discurso de Erixímaco no Banquete, vemos na história da Física - por exemplo, com Kepler e Isaac Newton - que a harmonia das esferas herdada de Pitágoras é algo que sempre esteve subjacente ao pensamento dos que se dedicaram à ciência em diferentes épocas. Para o médico grego é o Eros bom que promove o bem-estar e a harmonia, estando presente em todas as esferas do Cosmos (ordenação dos corpos) e das artes humanas. Ele compara, por exemplo, a medicina e a música: a primeira deve fazer existir a harmonia entre as forças físicas antagônicas e segunda deve combinar tons altos e baixos para formar uma sinfonia. Se o Eros for comparado a uma energia cósmica (ou amor cósmico), ele está em tudo, o que pela Física moderna é uma verdade quando dizemos que há uma energia quântica que permeia toda a criação deste Cosmos conhecido. O “Eros temperado” ou sadio de Erixímaco nos dá esta noção de ordenação. Já o “Eros destemperado”, ou insano, que vemos no discurso do Banquete nos leva à noção física de entropia ou desordenação constante da energia que antes agregava a criação.
Newton legou-nos os “Principia”, obra no qual desenvolveu a Mecânica entre corpos (rígidos ou fluidos). Inspirado na descrição do amor na natureza humana e sob uma ótica mecanicista, proponho abaixo poucos exemplos do cotidiano amoroso entre duas ou mais pessoas, e que poderá suscitar em muitos um grande “movimento interno de energias”. Ficará também, espero, mais claro para alguns que uma máxima hermética muito antiga que diz “assim como é em cima o é embaixo” pode ser aplicada quando falamos de amor e Física.

EXEMPLO 1: Um corpo pode ser levado a gravitar em volta de um outro sobre o efeito da atração que este exerce sobre aquele. Em alguns casos há a atração dos opostos. Mas desde que os campos magnético e gravitacional (a conversa e o visual, além do olhar trocado) o permitam, as trajetórias entre tais corpos convergem cada vez mais. Um aumento das temperaturas respectivas é assim muito provável, com o calor comunicando-se de um ao outro por radiação (quando à distância) ou logo pelo contato, o que, no caso dos homens, os levará a tirar a roupa. Como legou-nos Albert Einstein, a energia implicada neste processo é avassaladora, e podemos mostrar isso com a famosa equação E=mc2, onde E refere-se à energia e esta é proporcional ao quadrado da velocidade da luz, sendo que esta possui um valor absurdamente alto (300.00 km/s!), fazendo muitas vezes com que as pessoas envolvidas rapidamente decidam resolver a situação partindo para os beijos e abraços, e etc.

EXEMPLO 2: Existe um ramo da Mecânica estudado no ensino médio que se chama “colisões” entre corpos ou partículas. Continuando o exemplo acima, normalmente o encontro de tais pessoas (duas ou mais envolvidas) toma com o passar do tempo de atuação da energia Eros a forma de uma colisão, na maioria dos casos de tipo frontal, um caso particular desta parte da matéria estudada desde o ensino médio.

EXEMPLO 3: Agora usarei alguns dos conceitos de calor para mostrar a relação entre Eros e a Física. Quando a energia entre os corpos já está muita elevada, após os contatos mencionados, o aquecimento dos corpos provoca grandes movimentos de convecção.  Em certos casos particulares, dá-se uma alteração “cósmica” (já que cada ser humano é um microcosmo) conhecida cientificamente como orgasmo ou, para os mais fanáticos nas Ciências, um verdadeiro big-bang (ou seja, o surgimento de algo do nada). Quando tal fenômeno não ocorre é um problema, e aí temos que modificar a estratégia física na situação amorosa. O problema pode provir de um excesso de energia cinética (energia relacionada ao movimento) que dessa forma acelerou demais o processo no sistema de corpos, e em tal caso é conveniente liberar o excesso de energia (talvez uma parada momentânea no processo ajude). Mas se o problema deriva de uma deficiência de potência mecânica, pode ser resolvido por adição de energia calorífica - obtida por atrito – que acaba por levar à energia potencial (energia na Física que se relaciona com a altura ou com algo que está em pé). A partir deste momento pode ocorrer uma condensação (processo físico que surge quando o vapor torna-se líquido, ou seja, em nosso caso específico, trata-se do suor ou da síndrome das mãos úmidas). A vaporização é importante também nestes momentos difíceis ou mesmo na conquista inicial, quando se escolhe um perfume ao gosto do outro.

CONCLUSÃO: Bem, se tudo isso der certo é só partir correndo pro abraço como em um gol de Copa do Mundo! Lembremos que correr é uma particularidade da Cinemática, área da Física que trata das velocidades e movimentos. Pois a energia não se perde em um sistema fechado (logo, muitas vezes não nos agitamos em vão quando o Eros nos domina) e comprovamos de vez que as 3 Leis de Newton são também possíveis no amor:

1ª Lei – Inércia: o Eros nos tira dela.

2ª Lei - Força: a que nos explica a existência da força nos sistemas mecânicos. Ora, sem fazer força o amor não acontece, seja força de tomar a iniciativa, seja mesmo a de agarrar a pessoa oposta.

3ª Lei - Ação igual à reação: Se Eros nos domina respondemos a ele na mesma intensidade, mesma direção e em sentido oposto. Também é dito, em uma forma mais elaborada, que as curvaturas são diretamente proporcionais á quantidade dos movimentos (principalmente a curvatura traseira para os brasileiros).


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