Cavaleiro

Cavaleiro
Os créditos da ilustração são de André Marques - www.andre.art.br

Do Elogio à Nova Milícia - São Bernardo

PRÓLOGO

A Hugo, Soldado de Cristo e Mestre de sua Milícia,
Bernardo Abade, só no nome, de Claraval,
Saudações e que lutes o bom combate.



Cruz da Ordem Templária esculpida em pedra encontrada em Tomar, Portugal.


 
 Uma, e depois outra, e até três vezes, se não me engano, havias me pedido, caríssimo Hugo, que dirigisse a ti e a teus companheiros algumas palavras de alento que, se não prejudicassem a lança, vibrassem pelo menos a pena contra o inimigo tirano. E que sempre me afirmavas que tinham de ser um grande estímulo, para que, por não ser possível ajudarmos com as armas, os exortasse e animasse com meus escritos.

Demorei algum tempo em satisfazer teus desejos, não porque desdenhasse teu pedido, antes temendo que, se o aceitasse, me culpassem de precipitado e rápido, posto que, podendo fazê-lo qualquer outro melhor, presumia eu de poder sair airoso de tal empresa, e assim, prejudicava o fruto que podia se obter de coisa tão necessária. Mas ao ver que ,minha grande demora de nada me servia, pois insistias uma e outra vez, ainda que incompetente, decidi-me a fazer o que estava em mim. O leitor julgará se satisfiz seus desejos. Embora certamente, como escrevi este opúsculo senão para contentar-te e aceder ao que me pedias, não me preocupa muito que agrade àqueles que o lerem.


CAPÍTULO I


Elogio à Nova Milícia

Ouve-se dizer que um novo gênero de milícia acaba de nascer na terra, e precisamente naquela região onde antigamente viera nos visitar em carne o Sol Oriente, para que alí mesmo onde expulsou com o poder de seu robusto braço os príncipes das trevas, expulse agora os satélites daqueles, filhos da infidelidade e da confusão, por meio desses seus fortes, resgatando também o povo de Deus e suscitando um poderoso Salvador na casa de David seu servo.

Sim, um novo gênero de milícia nasceu, desconhecido em séculos passados, destinado a lutar sem trégua um duplo combate contra a carne e sangue e contra os espíritos malignos que povoam os ares. Sem dúvida, quando vejo combater só com as forças corporais um inimigo também corporal, não só o tenho por caso maravilhoso, porém sequer o julgo raro. Quando igualmente observo como as forças da alma guerream contra os demônios, tampouco me parece isso assombroso, embora seja muito digno de elogio, pois cheio está o mundo de monges, e todos costumam manter essas lutas. Mas quando se vê que um só homem carrega em seu flanco com ardor e coragem sua dupla espada e cinge os quadrís com um duplo cíngulo, quem não julgará caso insólito e digno de grandíssima admiração? Intrépido e bravo soldado aquele que, enquanto reveste seu corpo com a couraça de aço, guarnece sua alma sob a loriga da fé; pode gozar de completa segurança, porque equipado com essas duplas armas defensivas, não tem que temer aos homens nem aos demônios. E mais, nem sequer teme a morte, antes a deseja. O que poderia assustá-lo vivo ou morto, quando seu viver é Cristo? Ao contrário, desejaria melhor acabar de se soltar do corpo para estar com Cristo, sendo isso o melhor.

Marchai, pois, soldados, ao combate com passo firme e marcial e carregado de valoroso ânimo contra os inimigos de Cristo, bem seguros de que nem a morte nem a vida poderão separá-los da caridade de Deus, que está em Cristo Jesus. No fragor do combate proclamai: Quer vivamos, quer morramos, somos do Senhor. Quão gloriosos se tornam ao regresso triunfal da batalha! Por quão ditosos se teem quando morrem como mártires no campo de combate! Alegra-te, fortíssimo atleta, se vives e vences no Senhor; porém, regozija-te mais e dê saltos de alegria se morres e te unes ao Senhor. A vida te é certamente proveitosa e de grande utilidade, e o triunfo te acarreta a verdadeira glória; mas não sem grande razão se antepóe a tudo isso uma santa morte. Porque se são bem-aventurados os que morrem no Senhor, quanto mais o serão os que sucumbem por Ele!

É verdade certa é que, quer os visite no leito, que os surpreenda no fragor do combate, sempre será preciosa no acatamento do Senhor a morte de seus santos. Mas no ardor da refrega será tanto mais preciosa quanto mais gloriosa Oh, vida segura, quando vai acompanhada de boa consciência! Oh vida seguríssima, repito, quando nem sequer a morte se espera com receio, antes, se a deseja com amorosas ansias e se a recebe com doce devoção. Oh verdadeiramente santa e segura milícia, livre daquele duplo perigo que com frequencia costuma assustar aos homens quando não é Cristo quem os põem na luta!

Quantas vezes, ao travar combate com teu inimigo, tu, que militas nos exércitos do século, temes que, matando-lhe no corpo, matas também sua alma. Ou que, sendo tu morto pelo aço de teu rival, percas juntamente a vida da alma e a vida do corpo!

Porque não é pelo resultado material da luta, antes pelos sentimentos do coração pelo que julgamos os Cristãos acerca do risco corrido em uma guerra ou da vitória ganha; porque se a causa é boa, não poderá ser nunca mau o resultado, seja qual for o êxito , assim como não poderá se ter por boa a vitória ao final da campanha, quando a causa pela qual se iniciou não o foi e os que a provocaram não tiveram reta intenção. Se querendo matar a outro, és tu o morto, morres já homicida. E se prevaleces sobre teu contrário e, levado pelo desejo de vencer-lhe, mata-o, embora vivas, és também homicida. Infausta vitória na que, triunfando do homem, sucumbes ao pecado! E se a ira ou a soberba te avassalam, vãmente te jactas por haver dominado a teu oponente.

Dá-se outro caso, à exceção dos ditos, e é o de quem mata, não por zêlo de vingança, nem pela perversidade de gozar do triunfo, senão para evitar o mesmo a morte. Porém tampouco direi seja boa tal vitória; porque dentre dois males, como são a morte da alma ou a morte do corpo, preferível é a segunda; não porque morra o corpo morre também na alma, antes a alma que pecar, ela morrerá.


CAPÍTULO II

Da Milícia Secular

Qual será, pois, o fino fruto do que não chamo de milícia, senão de milícia secular, se o que mata peca mortalmente e o que cai morto perece para sempre? Porque se a esperança faz arar ao que ara, para usar as palavras do Apóstolo, e o que separa o faz esperando receber o fruto, que estranho erro é esse em que viveis, soldados do século? Que fúria frenética e intolerável os arrebata para que de tal modo guerreais passando grandes sofrimentos e gastando toda vossa economia, sem mais resultado que vir a parar no pecado ou na morte? Vestis vossos cavalos com sedas; aplicam em vossas couraças e lorigas não sei que plumas de diversos tecidos; pintais as ponteiras dos escudos, as capas dos escudos, as selas de montar, mandais fazer de ouro e prata os freio e as esporas, adornando-os de pedrarias, e assim, com toda a pompa, cheios de vergonhoso furor e imprudente estupor, cavalgais a passo ligeiro para a morte. São essas insígnias militares ou melhor enfeites de mulheres? Acaso a adaga inimiga retrocederá ante o brilho do ouro? Respeitará as ricas pedras? Não se atreverá a cortar e rasgar as sedas? Enfim, não vos foi ensinado a vós mesmos a experiência diária que para um soldado em campanha o mais necessário são três coisas, convém saber: valor, Sagacidade e cautela para parar os golpes do inimigo, soltura e agilidade de movimentos que vos permita ir ligeiro em vosso avanço e perseguição, e, por último, que estejais sempre pronto e rápido para feri-lo e derrubá-lo.

A vós vemos, pelo contrário, cuidar com esmero vossa cabeleira ao jeito feminino, o qual redunda em prejuízo de vossa visão no estrondo da guerra; vos envolveis com longos camisões que chegam até os pés e os travam; e, enfim, sepultais em amplas e complicadas mangas vossas mãos delicadas e ternas. Sobre tudo isso adicionais o que mais pode amedrontar a consciência de um soldado que sai em campanha, quero dizer, o motivo leviano e frívolo pelo qual teve a imprudência de se meter em milícia tão perigosa.

Por certo é que todas vossas diferenças e guerras nascem só de certos arrebatamentos de ira, ou de vãos desejos de glória, ou de ambição para conquistar alguma vantagem terrena. E, por tais motivos, certo que não se pode com segura consciência nem matar nem ceder.
CAPÍTULO III

Dos Soldados de Cristo

E mais, os soldados de Cristo lutam com segurança as batalhas do Senhor, sem temor de cometer pecado por morte do inimigo, nem por desconfiança de sua salvação em caso de sucumbir. Porque dar ou receber a morte por Cristo não só não implica uma ofensa a Deus nem culpa alguma, senão que merece muita glória; pois no primeiro caso, o homem luta por seu Senhor, e no segundo, o Senhor se dá ao homem por prêmio, olhando Cristo com agrado a vingança que se lhe faz de seu inimigo, e ainda com agrado maior se oferece o próprio por consolo ao que cai na lida. Assim, pois, digamos uma e mais vezes que o Cavaleiro de Cristo mata com segurança de consciência e morre com maior confiança e segurança ainda.

Utilidade tira para si, se sucumbe, e triunfo para Cristo, se vence. Não sem motivo leva a espada à cinta. Ministro de Deus é para castigar severamente os que se dizem seus inimigos; de Sua Divina Majestade recebeu o zero, para castigo dos que agem mal e exaltação dos que praticam o bem. Quando tira vida de um malfeitor não se lhe há de chamar homicida, senão "malicida", se vale a palavra, executa pontualmente as vinganças de Cristo sobre os que praticam a iniquidade, e com razão adquire o título de defensor dos cristãos. Se o matam, não dizemos que se perdeu, senão que se salvou. A morte que dá é para a glória de Cristo, e a que recebe, para sua própria. Na morte de um pagão pode se gloriar um cristão porque sai glorificado Cristo; morrendo valorosamente por Cristo mostra-se a liberalidade do Grande Rei, posto que tira seu Cavaleiro da terra para dar-lhe o galardão. Assim, pois, o justo se alegrará quando o primeiro deles sucumba, vendo aparecer a divina vingança. Mas se cai o guerreiro do Senhor, dirá: acaso não haverá recompensa para o justo? Certo que sim, pois há um Deus que julga os homens sobre a terra.

Claro está que não se haveria de dar morte aos pagãos se se pudesse refreá-los por outro qualquer meio, de modo que não acometessem nem perseguissem os fiéis e os oprimissem.

Mas por enquanto vale mais acabar com eles que tirar de suas mãos a vara com que haviam de escravizar os justos, e que não sejam os justos que afrouxem suas mãos à iniquidade.

Pois, porque, se não é lícito em absoluto ao Cristão ferir com a espada, como o Pregoeiro de Cristo exortava os soldados a se contentar com o soldo, sem proibir-lhes continuar em sua profissão? Isto suposto, se por particular providência de Deus se permite ferir com a espada os que abraçam a carreira militar, sem aspirar outro gênero de vida mais perfeito, a quem, pergunto eu, será mais permitido que os valentes, por cujo braço esforçado retemos ainda a fortaleza da cidade de Sión, como baluarte protetor aonde possa se acolher o povo santo, guardião da verdade, depois de expulsos os violadores da Lei Divina? Dissipai, pois, e desfazei sem temor a essas pessoas que só respiram guerra; passai à espada aos que semeiam o medo e a dúvida entre vossas filas; expulsai da cidade do Senhor todos os que praticam a iniquidade e ardem em desejos de saquear todos os tesouros do povo cristão guardados dentro dos muros de Jerusalém, que só cobiçam se apoderar do santuário de Deus e profanar todos nossos santos mistérios. Desembainhe-se a dupla espada, espiritual e material, dos cristãos, e descarregue com força sobre a testa dos inimigos, para destruir tudo o que se ergue contra a ciência de Deus, ou seja, contra a fé dos seguidores de Cristo; não digam nunca os fiéis 'Onde está seu Deus'?

Quando eles partirem em fuga e derrotados, voltará então à sua propriedade e à sua casa, da que diz de forma irada o Evangelho: Eis que vossa casa ficará deserta e um profeta queixa-se desse modo: Tive que me ausentar de minha casa e templo e deixar abandonada minha propriedade. Se, então se cumprirá aquele vaticínio profético que diz: O Senhor redimiu seu povo e o livrou das mãos do poderoso; e virão e cantarão hinos a Deus no monte Sión, e se juntarão aos bens do Senhor.

Regozija-te, Jerusalém, porque chegou o tempo da visita de teu Deus. Enche também de júbilo, desertos de Jerusalém, e prorrompei em celebrações, porque o Senhor aliviou a aflição de seu povo, redimiu sua cidade santa e levantou poderosamente seu braço frente aos olhos de todas as nações. Virgem de Israel, havias caído sem que houvesse quem te desse a mão para te levantar. Ergue-te agora, sacode o pó, Virgem cativa filha de Sion.

Levanta-te, repito, suba ao topo de tuas torres e vislumbra dalí os rios caudalosos de gozo e alegria que o Senhor faz correr para ti. De agora em diante não te chamarão "a abandonada", nem tua terra se verá por mais tempo desolada, porque o Senhor se comprouve em ti e voltarás a ter teus campos repovoado. Olhe ao redor e veja: todos se juntaram para vir a ti. Eis aí o socorro que te foi enviado do alto. Por eles a ti será cumprida a antiga promessa: te colocarei para a glória dos séculos e gozo de geração em geração; mamarás o leite das nações e te criarão o valor dos reis. E também, como a mãe acaricia seus filhinhos, assim também eu os aliviarei e em Jerusalém serás aliviado. Não ves com quantos testemunhos antigos fica aprovada vossa milícia e como se cumprem ante vossos olhos os oráculos alusivos à cidade das virtudes do Senhor? Mas de forma que o sentido literal não impeça que entendamos e creiamos no espiritual, e que a interpretação que agora damos na terra às palavras dos profetas não obste para que esperemos vê-las cumpridas na eternidade gloriosa; não seja pelo que vemos que se nos desvaneça o que diz a fé, e pelo pouco que temos percamos a esperança nas copiosas riquezas, e, por fim, pela certeza do presente esqueçamos o futuro. Quanto ao mais, a glória temporal da Jerusalém terrena não só se destrói ou diminui os gozos que teremos na celestial, senão que os aumenta, se temos bastante fé e não duvidemos que esta daquí embaixo só é uma imagem da dos céus, que é nossa mãe.


CAPÍTULO IV

Do modo de viver dos Soldados de Cristo

Mais para imitação ou confusão de nossos soldados que não militam com certeza para Deus, senão para o diabo, digamos brevemente qual há de ser a vida e os feitos dos Cavaleiros de Cristo e como hão de se haver em tempo de paz e em dias de guerra, para que se veja claramente quanta é a diferença entre a milícia do século e a de Deus. E antes de tudo, tanto em uma como na outra dá-se grandíssima importância à obediência e tem-se em muito alto conceito a disciplina, sabendo todos quanta verdade se encerra naqueles [ditos] da Escritura: o filho indisciplinado perecerá. E naquele outro: O desobedecer ao Senhor é como o pecado de magia, e como crime de idolatria o não querer se submeter. Vão e vem estes estes bons soldados a um sinal de mando, põem as roupas que ordena o Capitão, não tomam alimento nem vestem uniforme fora dos estipulados por ele. E o mesmo quanto ao comer e no que vestir evitam todo o superfluo, satisfeitos com o necessário. Levam a vida comum dentro de alegre, mas modesta e sóbria camaradagem, sem esposas e sem filhos. Para que nada falte à perfeição evangélica, não possuem nada de próprio, pensando só em conservar entre si a união e a paz. Direis que toda aquela multidão de homens tem um só coração e uma só alma; até tal ponto que nenhum deles quer se orientar por sua própria vontade, senão seguir em tudo a daquele que manda. Jamais estão ociosos nem vagam daqui para lá em busca de curiosidades, senão que durante todo o tempo, em que não estão em campanha, o que raras vezes ocorre, a fim de comer o pão gratuito, ocupam-se em limpar, remendar, tirar o môfo, compor e reparar tanto as armas como as vestimentas, para preservá-los e conservá-los contra os desgastes do tempo e do uso; e quando não isso, obedecem o que lhes ordena o capitão e trabalham no que é necessário para todos.

Não os vereis favorecer pessoas; respeitam e obedecem sempre ao representante de Deus, sem se preocupar em se é ou não é o mais nobre. Recatam-se mutuamente de mostras de honra e deferencias, suportam as obrigações uns dos outros, cumprindo com isso a Lei de Cristo. Não se estilam entre eles palavras arrogantes, nem ocupações inúteis, nem risos sem compostura, nem o mais leve murmúrio; e se algum incorresse nisso, não ficaria sem corretivo.

Tem aversão à prestidigitação e jogos de azar; tampouco se dedicam à caça e não se permitem à falconagem, embora tão generalizada. Abominam cômicos, magos e bufões, cujo trato evitam com cuidado; detestam as toadas engraçadas, as comédias e toda a linha de espetáculos, como puras vaidades e necessidades enganosas.

Cortam o próprio cabelo, sabendo pelos ensinamentos do apóstolo que é uma vergonha para os homens o pentear cabelos compridos. Nunca enfeitam os cabelos, raras vezes tomam banho, andam com a barba cerrada, geralmente cobertos de poeira e enegrecidos pelas cotas dde malha e queimados pelo sol.

Ao se aproximar o combate, armam-se de fé em sua alma e cobrem-se por fora de ferro, não de ouro, a fim de que assim, bem equipados de armas, não engalanados de jóias, infundam medo a seus inimigos sem provocar sua cobiça. Procuram cavalos fortes e velozes, não formosos e bem arreiados, pensando mais em vencer que em ostentar altivez, e o que desejam não é precisamente causar admiração e pasmo, senão turbação e medo.

E até começar a luta, não se lançam a ela impetuosos e de forma turbulenta, como empurrados pela precipitação, senão com suma prudência e extrema cautela, ordenando-se todos em coluna cerrada para se apresentar à batalha, segundo lemos, que costumava fazer o povo de Israel. Mostrando-se em tudo verdadeiros israelitas, se adiantam ao combate pacífica e sossegadamente. Mas apenas o clarim dá o sinal de ataque, deixando subitamente sua natural benignidade, parecem gritar com o salmista: Não odiei, Senhor, àqueles a que tinhas aversão? Não me recriminastes ante a conduta de teus inimigos? E assim davam carga sobre seus adversários, tal como entrassem em um rebanho de cordeiros, sem que, apesar de seu escasso número, se intimidem ante a crudelíssima barbárie e ingente multidão das hostes contrárias. É que aprenderam a confiar não em suas próprias forças, senão no poder do Senhor Deus dos exércitos, em quem está a vitória, o qual, segundo se diz nos Macabeus, pode facilmente por meio de um punhado de valentes acabar com grandes multidões, e sabe livrar seus soldados com igual arte das mãos de poucos com de muitos; porque o triunfo não está em que um exército seja numeroso, senão que a fortaleza provem do céu.

Experiência frequentíssima tem disto, porque mais de uma vez lhes ocorreu derrotar e afugentar o inimigo, lutando um contra mil e dois contra dez mil.

Enfim, estes Soldados de Cristo, de modo maravilhoso e singular, mostram-se tão mansos como cordeiros e tão ferozes como leões, não se sabendo se lhe hás de chamar monges ou guerreiros ou dar-lhes outro nome mais apropriado que abarque a ambos, pois conseguem irmanar a mansidão de uns com o valor e a fortaleza de outros. Acerca de tudo isso, que dizer, senão que tudo isso é obra de Deus, e obra admirável a nossos olhos? Eis aqui os homens fortes que o Senhor foi elegendo de um confim a outro do mundo, entre os mais bravos de Israel para faze-los soldados de sua escolta, a fim de guardar o leito do verdadeiro Salomão, ou seja o Santo Sepulcro, em cujo redor os pôs para estar alertas como fiéis sentinelas armados de espada e habilíssimos na arte da guerra.



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