Cavaleiro

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Os créditos da ilustração são de André Marques - www.andre.art.br

Galileu, Kepler e Bacon: “estrelas” dos nossos livros e apostilas discutindo a influência das estrelas no século XVII

Por: Juliana Mesquita Hidalgo Ferreira    


Galileu, Kepler e Bacon
O filósofo Francis Bacon (1561-1626) aceitava não só a existência de influências celestes nos fenômenos terrestres, como também a possibilidade de estudá-las. Bacon criticou alguns aspectos da astrologia, e indicou aperfeiçoamentos que esse tipo de estudo deveria sofrer. Estabeleceu princípios para o estudo das influências astrológicas e sugeriu que fossem verificadas as condições do céu para momentos marcantes da história da humanidade. Teriam esses momentos coincidido com a ocorrência de conjunções, eclipses ou com a passagem de cometas?
Johannes Kepler (1571-1630), um dos mais importantes personagens da “revolução copernicana”, dedicava-se à astrologia e propôs algumas modificações de suas técnicas.  Kepler acreditava que nas ocasiões em que os planetas formavam no céu algumas figuras geométricas específicas, os chamados “aspectos astrológicos” (conjunções, oposições, quadraturas etc.), suas influências causavam efeitos na Terra. Nessas situações especiais era como se uma espécie de música fosse tocada à qual a Terra respondia como um dançarino.
Em 1610, Kepler comentou sobre a repercussão para a astrologia da descoberta de quatro satélites de Júpiter, num diálogo com Galileu Galilei (1564-1642), o próprio autor daquela proeza. A questão causou certa inquietação a Kepler e levou-o a profunda meditação.
O astrônomo julgava que Deus nada havia criado em vão. Os satélites de Júpiter, como parte da criação divina, deveriam ser benéficos a alguém. Mas como, “se não há alguém sobre o globo de Júpiter para se dar conta com seus olhos desta admirável variedade?” – se indagava Kepler.
Como os satélites de Júpiter não podiam ser observados a olho nu, então, a função de servir-nos como maravilha para contemplação não lhes cabia. Se essa não era, portanto, a incumbência divina desses quatro satélites de Júpiter observados por Galileu, que papel lhes cabia no universo?
Só parecia restar a Kepler a opção de considerá-los como fonte de influências astrológicas. E foi o que ele fez.
Mas se a astrologia nunca havia levado em conta essas influências, a descoberta dos satélites podia acarretar problemas a essa área. Seria possível dizer que as influências dos satélites de Júpiter já eram normalmente computadas, mesmo que não se soubesse anteriormente da existência particular de cada um deles? Era possível alegar que o que teríamos até então era não o efeito de Júpiter, mas sim do conjunto “Júpiter+satélites”?
O que significaria se Júpiter tivesse sua influência alterada de acordo com a influência dos seus satélites, fossem elas no sentido de reforçar ou diminuir a influência original? Júpiter isolado poderia ter um significado diferente de Júpiter e seu conjunto de satélites.
Kepler apresentou suas considerações a Galileu. Considerava sim que a função dos satélites de Júpiter deveria ser emitir influências astrológicas, mas não via isso como um abalo para a astrologia. A explicação de Kepler era baseada justamente no fato de conceber que os astros somente agiriam sobre a Terra “por aspectos”.
Como vistos da Terra os satélites estão sempre muito próximos de Júpiter, então, eles não podiam modificar os aspectos do planeta com a Terra. Influências individuais desses satélites sobre a Terra seriam desprezíveis. Os satélites de Júpiter só deveriam ser astrologicamente importantes para os próprios habitantes do planeta Júpiter.
E foi assim que Kepler respondeu a um Galileu bastante avesso à astrologia...


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